São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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O jornal previsível

É DIFÍCIL saber se a Folha é hoje um jornal melhor ou pior do que há quase 18 anos, quando instituiu o ombudsman e Caio Túlio Costa publicou sua primeira coluna (em setembro de 1989). Mais fácil é constatar que se tornou mais previsível.
O jornal previsível pode ser o triunfo ou a desgraça.
O bom jornal previsível contém o que os leitores esperam: assuntos, abordagens, serviços, até idiossincrasias. Oferece -ao menos busca oferecer- informações com os padrões a que se habituou.
No mau jornal previsível escasseiam as surpresas. Ele não é curioso ou provocador. Soa tristonho, apático e sem graça. Ao primeiro olhar, reage-se a ele com a impressão de que se pode adiá-lo para mais tarde.
O jornal ideal equilibra-se: é previsível ao atender às expectativas cotidianas de quem o lê; e se recusa a ser previsível porque surpreende, identificando com agilidade as novidades que transforma em informação. No limite, consagra como previsível o ato de surpreender.
Há jornais que, por caráter, podem dispensar surpresas. Não é o caso da Folha. Nos últimos anos, contudo, ela se fez mais previsível, no sentido jornalístico indesejável.
A aparente falta de ousadia ocorre em momento no qual os chamados jornais brasileiros de prestígio se assemelham. Os concorrentes mimetizaram inovações que a Folha introduziu com sucesso.
No mundo inteiro, sob o impacto da internet, os diários impressos se defrontam com uma crise que talvez seja a maior da história.
O jornal em papel precisa produzir mais que o resumo inspirado dos acontecimentos da véspera, embora esse ainda seja o seu dever essencial.
Com informações cada vez mais fragmentadas, cabe ao jornal organizá-las como o jornalismo em outras mídias não consegue, por enquanto.
A despeito de liderar o mercado, a Folha não ostenta mais a tiragem pré-internet. Tem cortado jornalistas, papel, correspondentes nos Estados e no exterior, mecanismos de checagem de erros.
Relaxa na aplicação do projeto editorial que cultiva o jornalismo crítico (falha ao ser ingênua), apartidário (tropeça no noticiário enviesado) e pluralista (quando não vai além do pensamento único).
Nesse cenário mais complexo e desafiador para o jornal, do ombudsman se exige ser a melhor síntese possível do interesse dos leitores. É a isso que me dedicarei a partir de agora como o novo ouvidor.
Hoje a Folha reconhece seus erros mais vezes e com mais rapidez do que antes de ter um ombudsman. É pouco: respeitar o leitor é, sobretudo, informar com correção.


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Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Mário Magalhães/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


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