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O jornal previsível
É DIFÍCIL saber se a Folha
é hoje um jornal melhor
ou pior do que há quase
18 anos, quando instituiu o
ombudsman e Caio Túlio Costa publicou sua primeira coluna (em setembro de 1989).
Mais fácil é constatar que se
tornou mais previsível.
O jornal previsível pode ser
o triunfo ou a desgraça.
O bom jornal previsível
contém o que os leitores esperam: assuntos, abordagens,
serviços, até idiossincrasias.
Oferece -ao menos busca oferecer- informações com os
padrões a que se habituou.
No mau jornal previsível escasseiam as surpresas. Ele não
é curioso ou provocador. Soa
tristonho, apático e sem graça.
Ao primeiro olhar, reage-se a
ele com a impressão de que se
pode adiá-lo para mais tarde.
O jornal ideal equilibra-se: é
previsível ao atender às expectativas cotidianas de quem
o lê; e se recusa a ser previsível
porque surpreende, identificando com agilidade as novidades que transforma em informação. No limite, consagra
como previsível o ato de surpreender.
Há jornais que, por caráter,
podem dispensar surpresas.
Não é o caso da Folha. Nos últimos anos, contudo, ela se fez
mais previsível, no sentido
jornalístico indesejável.
A aparente falta de ousadia
ocorre em momento no qual
os chamados jornais brasileiros de prestígio se assemelham. Os concorrentes mimetizaram inovações que a Folha introduziu com sucesso.
No mundo inteiro, sob o impacto da internet, os diários
impressos se defrontam com
uma crise que talvez seja a
maior da história.
O jornal em papel precisa
produzir mais que o resumo
inspirado dos acontecimentos
da véspera, embora esse ainda
seja o seu dever essencial.
Com informações cada vez
mais fragmentadas, cabe ao
jornal organizá-las como o jornalismo em outras mídias não
consegue, por enquanto.
A despeito de liderar o mercado, a Folha não ostenta
mais a tiragem pré-internet.
Tem cortado jornalistas, papel, correspondentes nos Estados e no exterior, mecanismos de checagem de erros.
Relaxa na aplicação do projeto editorial que cultiva o jornalismo crítico (falha ao ser
ingênua), apartidário (tropeça
no noticiário enviesado) e pluralista (quando não vai além
do pensamento único).
Nesse cenário mais complexo e desafiador para o jornal,
do ombudsman se exige ser a
melhor síntese possível do interesse dos leitores. É a isso
que me dedicarei a partir de
agora como o novo ouvidor.
Hoje a Folha reconhece
seus erros mais vezes e com
mais rapidez do que antes de
ter um ombudsman. É pouco:
respeitar o leitor é, sobretudo,
informar com correção.
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Mário Magalhães é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2007. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Mário Magalhães/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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