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OMBUDSMAN
SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman
DESENCONTRO DE NÚMEROS
Pesquisa eleitoral influencia o ânimo dos militantes e as doações, por isso a marcação cerrada sobre os institutos
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'A Folha não cansa de divulgar seu suposto apartidarismo. Mas como explica que, entre quatro pesquisas
divulgadas por quatro institutos diferentes, em menos de duas semanas, apenas o Datafolha tenha
apontado Serra na frente de Dilma,
ainda que por um mísero pontinho?
E por que a pesquisa estimulada vai
para a manchete, enquanto a espontânea fica escondidinha no
meio do jornal? Por essas e por outras, cancelei minha assinatura,
mas, depois de mais de 40 anos lendo a Folha, confesso que dou uma
filada no exemplar do trabalho.
Cordiais saudações,'
Jonathan Teixeira
(Tremembé, interior de SP)
O E-MAIL, enviado na quinta-feira,
depois que o Sensus deu dez pontos
de vantagem a Dilma Rousseff, foi
só um entre dezenas. Com a divulgação de novas pesquisas eleitorais,
aumentaram as suspeitas sobre o
Datafolha, o único dos grandes institutos que não deu a candidata do
PT ultrapassando José Serra.
No Datafolha mais recente, feito
entre 20 e 23 de julho, os dois principais presidenciáveis apareciam tecnicamente empatados (Serra, 37%;
Dilma, 36%). No Ibope feito uma semana depois, o PT tinha cinco pontos a mais (Dilma 39%; Serra, 34%).
Os resultados, porém, não são tão
diferentes se a margem de erro for
levada em conta (dois pontos para
mais ou para menos). No limite do
Datafolha, Serra teria 35% e Dilma
38% -a petista à frente. No Ibope, o
tucano estaria com 36% e Dilma
com 37% -quase empatados.
Além da margem de erro, é preciso levar em conta quando as pessoas foram entrevistadas. Pesquisa
eleitoral é o retrato de um momento.
Uma semana, mesmo em uma campanha morna, pode fazer diferença.
O que aconteceu, provavelmente,
é que o Datafolha está "atrasado",
quando fez as entrevistas não havia
um crescimento de Dilma, que os
dois últimos Ibopes captaram.
Há outra hipótese: como as metodologias são diferentes, pode ser
que simplesmente um deles esteja
certo e o outro errado.
No conjunto dos dados, o cenário
do último Datafolha não é nada
ruim para a candidata do governo.
Ela aparece na frente na pesquisa
espontânea (o entrevistador não
mostra os nomes dos que concorrem), tem uma rejeição menor que a
de Serra e mais gente acredita que
ela vencerá no dia 3 de outubro.
Mesmo assim, militantes mais
exaltados preferem acreditar que
Datafolha e Folha são uma entidade única a favor do PSDB. O instituto
é uma empresa à parte. O jornal, um
de seus clientes, paga pelas pesquisas encomendadas, embora ambos
pertençam ao Grupo Folha.
O Datafolha faz pesquisas que os
jornalistas nem ficam sabendo. Em
política, não atende partidos, instituições, sindicatos: só trabalha para meios de comunicação, sob a
condição de que os resultados sejam publicados. Se um prefeito quiser, por exemplo, testar suas chances em uma reeleição, não pode
contar com o Datafolha.
A independência entre instituto e
Redação é salutar para os dois. O
jornal naturalmente valoriza as pesquisas que encomenda -quase
sempre são manchetes-, mas deveria destacar também as feitas por
institutos que considera confiáveis.
Nem sempre acontece.
A Folha escondeu as duas últimas pesquisas Ibope: não foi o título
principal da página nem mereceu
chamada na capa. Foi um erro.
Pesquisas são fatos políticos.
Muitos acreditam que podem mudar o rumo de um pleito (o eleitor teria uma tendência a votar em quem
vai vencer), o que é muito discutível,
mas certamente influencia o ânimo
dos militantes e o financiamento de
campanhas. Daí a marcação cerrada em cima dos institutos.
Quando Mauro Paulino, diretor-geral, e Alessandro Janoni, diretor
de pesquisas do Datafolha, escreveram, em dezembro de 2009, artigo
dizendo que Dilma poderia empatar
com Serra graças aos "votos de Lula", ela tinha apenas 23% e o seu adversário, 37%. Na época, nenhum
petista reclamou. As acusações, como se vê, variam conforme os ventos. E os números.
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Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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