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SUZANA SINGER
ombudsman@uol.com.br
Menos opinião,
mais informação
Para se diferenciar da informação ligeira da internet, a Folha está
investindo em textos que contextualizem a notícia, mas falta distinguir melhor análise de opinião
A Folha tem 99 colunistas. Em
comparação com os concorrentes nacionais e com vários
jornais do exterior, ganha de todos
em número de colunas por espaço
editorial. É, provavelmente, recordista mundial em "colunismo".
Desde o ano passado, o jornal vem
formando um novo time, desta vez de
analistas. São 128 especialistas, incluindo alguns jornalistas da casa,
convidados a escrever pequenos textos que devem contextualizar a notícia do dia anterior.
A iniciativa, louvável, é uma das formas que o jornal encontra de se diferenciar da informação bruta, seca e ligeira da internet.
É um meio também de enriquecer o
noticiário sem contaminar a reportagem: o jornalista descreve, da forma
mais neutra possível, o que aconteceu
e, ao lado, outra pessoa tenta inserir o
fato em um cenário maior.
Para deixar clara a diferença entre o
que é notícia e o que não é, a Folha
usa vinhetas de "análise", "artigo",
"opinião" e "depoimento". São palavras azuis acima dos títulos.
Nos últimos dias, porém, vendeu-se
gato por lebre. Textos opinativos apareceram travestidos de análise. A diferença, às vezes tênue, é importante.
Em 29 de abril, Dinheiro publicou
que "é hora de reverter os estímulos
dados para que o crescimento se
acomode em patamar mais sustentável, evitando que a festa de consumo, investimento e gastos do governo de hoje se transforme em ressaca
inflacionária mais à frente". A frase,
que parece declaração do presidente
do Banco Central, fecha um desses
textos editados como "análise".
No dia seguinte, outro artigo, em
Brasil, dizia que, na validação da Lei
de Anistia pelo Supremo Tribunal
Federal, "prevaleceu o medo atávico
de enfrentar vergonhas do passado".
Mais uma vez, a identificação que
aparecia era "análise".
Há uma semana, foi a vez de Mundo de editar um texto "analítico" ao
lado de uma longa entrevista com o
presidente da Venezuela. Nele, o autor afirmava que Hugo Chávez é o
"campeão" da "enrolação" e que é
"mais idolatrado do que Cristo num
culto evangélico" nos meios de comunicação oficiais.
A confusão ocorre, em geral, quando há um suposto consenso sobre o
assunto focado: parece unânime que
a inflação deve ser combatida com
juros, que seria melhor julgar torturadores e que Hugo Chávez odeia a
liberdade de imprensa. É tão "óbvio"
que nem parece opinião.
Um comunicado da Secretaria de
Redação, divulgado nesta semana,
define os requisitos que uma análise
deve ter: histórico do acontecimento
focado, suas consequências e implicações, o ambiente em que o fato se
deu, os beneficiados e prejudicados,
os desdobramentos práticos e, quando possível, diferentes interpretações da notícia.
Já nos textos opinativos, o autor
toma partido, argumenta, defende
medidas e tenta convencer o leitor. É
o que fazem os 99 colunistas, escolhidos justamente por terem convicções fortes. A Folha não precisa de
mais opinião em suas páginas. Mais
informação, em formato de análise,
é sempre bem-vinda.
PIMENTA EM
MANCHETE
Na terça-feira, a Folha manchetou: "Governo quer estimular portador de HIV a ter filho".
O que se entende é que o governo pretende incentivar soropositivos a engravidar, certo? Não
era isso que dizia a reportagem.
O texto dizia que o Ministério da Saúde discute um documento que orientará os portadores de HIV que queiram ter
filhos a fazer sexo sem camisinha, mas da forma menos arriscada possível (em datas e
condições clínicas específicas).
É um tema polêmico, porque
a Organização Mundial da Saúde indica apenas inseminação
artificial nesses casos.
Mais próximo da realidade
era o título interno: "Governo
defende reprodução planejada
de soropositivos".
A Secretaria de Redação não
concorda que a manchete estava errada. Afirma que "o conjunto de orientações do Ministério da Saúde configura um
estímulo à reprodução".
Acho que a Folha decidiu,
sem precisar, colocar mais pimenta num assunto já picante.
IRRITANDO
CORINTIANOS
Vários leitores escreveram
reclamando de "brincadeiras"
da Folha com corintianos. Na
quinta-feira, na capa de Esporte, foi publicada uma foto de
um torcedor arrasado, com os
dizeres "sem ter nada", um trocadilho com "centenário" que o
clube comemora neste ano.
Na Folha Online, uma "reportagem" elencava brincadeiras e piadas que circulam na rede desde a derrota do Corinthians. Pra que irritar o leitor?
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Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Carlos Eduardo Lins da Silva/ombudsman,
ou pelo fax (011) 3224-3895.
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