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Neutro? Só pH
Mesmo sem existir quimicamente pura, a objetividade deve ser buscada; não é função
de reportagem "fazer cabeças", mas informar
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QUEM acredita em neutralidade jornalística
deveria reparar na valiosa e involuntária contribuição da Folha para exterminar
tal crença.
No dia 25 de novembro, o
jornal apresentou em Mundo
um estudo que monitorou
TVs e rádios da Venezuela na
campanha do referendo sobre
mudanças constitucionais.
Seis dias depois, Brasil reeditou por engano o mesmo
texto em parte dos exemplares. A investigação acadêmica
confirmou que o noticiário é
parcial, porém menos que em
pleitos anteriores.
Mundo titulou com tons
sombrios: "Mídia venezuelana
cobre mal referendo". Brasil
iluminou o progresso: "Cobertura do referendo está mais
imparcial, revela estudo".
A partir da mesma matéria-prima, o jornal ofereceu duas
sínteses, ambas corretas: a depender da página, o conteúdo
era positivo ou negativo. Isso
ocorreu porque neutralidade
e objetividade jornalísticas
são entidades de ficção.
O "Manual da Redação" da
Folha ensina: "Não existe objetividade em jornalismo. Ao
escolher um assunto, redigir
um texto e editá-lo, o jornalista toma decisões em larga medida subjetivas, influenciadas
por suas posições pessoais, hábitos e emoções".
Acrescento: cultura, idiossincrasias e opiniões das organizações jornalísticas também
impactam as opções.
Ainda assim, na mesma Redação, conheceram-se interpretações opostas. Uma considerou que deveria destacar a essência da reportagem -a cobertura é partidária; outra, a
novidade: há evolução.
O leitor que alcançou o ponto final recebeu o conjunto de
informações para formar seu
próprio juízo. O que só passou
os olhos pelo alto foi influenciado com vigor pelo intermediário -o autor do título.
Mesmo sem existir quimicamente pura, a objetividade é
uma qualidade que se deve
perseguir, notadamente em
alguns gêneros do jornalismo
-não é função de reportagem
"fazer cabeças", mas informar.
O guia ético do "New York Times" recomenda ser tão imparcial "quanto possível".
Cobrado pela distorção que
a paixão pelo Botafogo causaria em seus comentários, João
Saldanha retrucava: "Ninguém é filho de chocadeira; todo mundo tem opinião".
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