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Correções aumentam. Porém...
O atraso nas correções manteve-se com exagero injustificável; o tempo para veicular o "Erramos" foi de sete dias -menos que em 2006 (oito)
A Folha noticiou em outubro que a protagonista da série televisiva "Samantha
Who" é psiquiatra. Por e-mail,
uma leitora esclareceu: é advogada. Cobrei, e a Redação
bateu pé: "A profissão [...] está
correta".
Encaminhei a resposta à leitora, que enviou o link do site
oficial do programa nos EUA e
reafirmou: advogada. A Redação retrucou: "A personagem
realmente é uma advogada. A
leitora está equivocada".
Se é advogada, o engano foi
do jornal. Só após muita insistência, dois meses depois, foi
publicado "Erramos".
Em agosto, informou-se que
um animal chamado opilião é
uma aranha. Uma cientista escreveu, ensinando: trata-se de
aracnídeo, mas não de aranha.
A Redação bancou: "Não
consideramos erro". Insisti, e
o Programa de Qualidade concluiu, após consultar cinco
acadêmicos: a leitora tinha razão. Saiu "Erramos".
Que faltou depois da manchete de novembro "Cisco
usou laranja para doar R$ 500
mil ao PT, afirma PF". Como
se comprovou, a polícia não
fez tal afirmação. Leitores e eu
pedimos retificação. Os fatos
derrubaram a versão. Ainda
assim, a Folha a manteve.
Como quando alardeou em
primeira página de julho que
uma adolescente de nome
masculino estava grávida. Não
estava, exame constatou. Fracassei no esforço para corrigir.
Sobreveio novo insucesso,
em reclamação a respeito de
reportagem dando conta de
que o empresário Paulo Zottolo se ausentara de protesto do
movimento Cansei em agosto.
Ele disse que estava lá. A
Redação defendeu-se: os repórteres não o viram. A assessoria de Zottolo indicou testemunha. A última carta da Redação concedeu: "Não descartamos a possibilidade de o empresário ter ido ao ato". Em
vez de apurar com os presentes, ficou por isso, sem correção. Nem verificação rigorosa
se produziu.
A resistência em reconhecer erros e corrigi-los é um
dos maiores obstáculos à
transparência, credibilidade e
espírito de prestação de contas do jornalismo.
A despeito do jogo duro, o
jornal evoluiu. No ano passado, imprimiu 1.389 correções,
148 a mais que em 2006. A
marca e o pulo de 12% são recordes, desde que o levantamento passou a ser feito, em
2004.
Por dia, houve quase quatro
correções (3,8). Somam-se erros, não "Erramos" -às vezes,
uma nota retifica duas ou
mais informações.
Mais correções podem ou
não equivaler a mais erros.
Em setembro, um professor
da Universidade de Oregon
mostrou que, em um universo
de dez jornais americanos, insignificantes 2% dos equívocos são admitidos.
Mesmo com a incerteza sobre o total de erros, os novos
números sugerem disposição
maior para se corrigir. Se os
leitores ganham em informação, perdem em espaço: na página A3, a seção "Erramos"
encurta o "Painel do Leitor".
O atraso nas correções
manteve-se com exagero injustificável. O tempo para veiculação de "Erramos" foi de
sete dias (7,34). Menos que
em 2006 (oito) e igual a 2005.
A média sobe para nove dias
(8,67) se for considerada a
checagem extraordinária sobre reportagem de 2005 de
autoria de um ex-colaborador
que veio a ser acusado de integrar organização criminosa.
Das editorias diárias, as
mais ágeis para se corrigir são
a Primeira Página (dois dias)
e Mundo (cinco). Dos suplementos, o Guia da Folha (média exemplar de 24 horas). As
retificações mais demoradas,
nas seções do dia-a-dia, são de
Ciência (13) e Brasil (dez;
eram cinco dias em 2006).
Se não faz feio no jornalismo brasileiro, a Folha está
longe do melhor padrão do exterior. No último fim-de-semana, aqui se corrigiram seis
erros de informação. No "New
York Times", 24, 300% a mais.
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