São Paulo, domingo, 10 de março de 2002

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Painel do Outro Lado

Algo diferente tem havido na Folha com a aplicação (ou não-aplicação) do princípio do "outro lado" (ouvir versões de pessoas ou instituições afetadas no noticiário). Só isso explica, na semana passada, a ocupação tão exacerbada do Painel do Leitor por cartas de autoridades/personalidades/celebridades questionando matérias.
O susto começou na terça, quando a seção foi toda ocupada por apenas duas cartas de representantes de instituições "atingidas" pelo jornal.
No dia seguinte, a categoria ganhou quatro das nove mensagens, sendo a última uma crítica justamente ao desvirtuamento verificado no dia anterior: "É um absurdo o que a Folha faz com o "Painel do Leitor'", queixava-se Carlos Kolb (São Paulo).
Na quinta, foram cinco do total de sete. Na sexta, um "replay" da terça: nenhuma das (quatro) cartas era de "simples" leitor.
Segundo a direção de Redação (DR), o Painel aproveita, em média, cerca de 10% das mensagens que recebe. Seu raciocínio: se fosse criada uma segunda seção (apenas para leitores propriamente ditos), o aproveitamento iria a 20%, ou seja, 80% continuariam de fora.
Além disso, o jornal acha "republicano" que autoridades e leitores o interpelem em sua condição de cidadãos e tenham suas mensagens publicadas no mesmo espaço.
A criação de duas seções sugeriria uma distinção entre duas classes de leitores.
Outro argumento enviado ao ombudsman: "Nossa seção de cartas é frequentemente "invadida" por contestações pela simples e saudável razão de que a Folha tem por política publicá-las, ao contrário da praxe em outras publicações, que é, sabidamente, a de engavetá-las".
Também recebi um e-mail de um leitor comentando o assunto, por outro caminho:
"Corajosa e transparente como de costume, a Folha publicou a reclamação do leitor Carlos Kolb... A publicação da manifestação do leitor (comum), todavia, foi concomitante à das demais cartas de figurões ocupando espaço sempre desproporcional ao dos leitores. Conclusão? O recado para nós é: ok, registramos suas queixas, mas não mudaremos nada. Paciência...".
O risco é de esvaziamento da seção. Pior: sua transformação em Painel do Outro Lado -algo nocivo não só à interlocução jornal-leitor mas também ao princípio que prevê a obrigatoriedade do "outro lado" nas reportagens.



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