São Paulo, domingo, 10 de julho de 2011

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OMBUDSMAN

SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman

Para entender economia


Em vez de integrar os noticiários econômico e político, a Folha espalhou o assunto por editorias


EM MARÇO, a Folha anunciou uma mudança importante na organização do noticiário de economia, antes concentrado no caderno Mercado. O que diz respeito ao cenário internacional foi transferido para Mundo, macroeconomia passou para Poder, negócios e direitos do consumidor ficaram em Mercado.
A intenção era integrar as notícias de política e economia e abrir espaço para acompanhar mais de perto as empresas. "A reorganização permitirá aprofundar a cobertura dos assuntos econômicos, ampliando o didatismo e o espaço dos textos analíticos. A mudança também se propõe a facilitar a compreensão do leitor sobre questões que misturam aspectos políticos e econômicos, seja no país, seja no ambiente internacional", anunciou o jornal em 20 de março.
Três meses depois, o balanço não é positivo. Na quinta-feira passada, por exemplo, a entrevista da nova diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, ficou retalhada. Em Poder, destacou-se sua preocupação com o excessivo fluxo de capitais para países emergentes. Em Mundo, aparecia sua promessa de aumentar a "diversidade" na equipe do fundo. Duas páginas depois, outro texto mostrava que o ritmo de crescimento dos emergentes tinha caído.
Essa desorganização pode não chamar a atenção consciente do leitor, mas causa um ruído na fluidez da leitura, que, com o tempo, incomoda. É como a edição de um filme: quando é bem-feita, passa despercebida. Se é mal-ajambrada, cansa o espectador no meio da sessão.
Em vez de apenas recortar e colar assuntos, o jornal deveria integrar de fato os noticiários. As idas e vindas do crescimento da economia mundial, da China, dos EUA, da Europa, têm impacto aqui. Podem mexer com o preço dos alimentos, com o dólar e as exportações. Isso tem influência direta na inflação e pode levar o governo a adotar medidas impopulares -como o aumento de juros-, que podem afetar a avaliação da presidente.
Um jornal inteligente ligaria os pontos para o leitor e, num único texto, explicaria as implicações. Além disso, em vez de soltar índices ao léu (saem vários por dia), explicaria o que eles significam e como estão relacionados. É o que fazem os bons colunistas de economia do jornal, como Vinicius Torres Freire e Delfim Netto.
Sozinhos, os últimos números não dizem nada ao leigo. "Dívida externa aumenta 43% em menos de 2 anos" foi a manchete da Folha no domingo passado. E se fosse 20%? Ou 60%?
O Brasil já não é mais assolado por inflação altíssima e sacolejado a cada tantos anos por "criativos" planos econômicos. Os principais índices estão ao alcance de um clique no mouse. Faz sentido repensar a cobertura econômica, mas com profundidade, investindo em jornalistas sêniores, com capacidade analítica e repensando prioridades. Não bastam transplantes artificiais.


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Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Suzana Singer/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


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