São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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ENTREVISTA

O poder local

As eleições municipais evidenciam, desde sempre, como cobrimos mal, sem continuidade e sem projeto editorial, as Câmaras Municipais e os vereadores. Se os jornais não conseguem cobrir direito as Assembléias Legislativas estaduais, o que dizer das câmaras? No entanto, é nos municípios que as pessoas vivem e têm seus interesses diretos.
A Folha não foge desse padrão de cobertura irregular e sem rumo. A Câmara e seus vereadores são lembrados quando explodem os escândalos. Assim mesmo, as coberturas têm vida curta. Não há uma preocupação em acompanhar as políticas públicas e nem o comportamento e desempenho dos vereadores. Mesmo no período eleitoral eles são relegados, porque a atenção dos jornais está voltada para a disputa pela prefeitura.
Isso tem conserto? É difícil, porque os jornais têm pouco espaço e um leque grande de assuntos para acompanhar. Jornais como a Folha têm compromisso prioritário com a política nacional. Mesmo assim, os jornais deveriam pensar em espaços de informação sobre o trabalho dos vereadores. De tal forma que permita aos leitores chegarem às eleições com algum conhecimento que ajude na decisão do voto.
São Paulo tem duas organizações que monitoram a Câmara dos Vereadores: o Instituto Ágora de Defesa do Eleitor e da Democracia (www.eleitor.org.br), que acaba de publicar o "Balanço Legislativo Municipal" da cidade, e o Movimento Voto Consciente (www.votoconsciente.org.br). Gilberto de Palma é cientista político e diretor do Instituto Ágora.
 

Ombudsman - Os jornais cobrem bem a eleição municipal?
Gilberto de Palma -
Não. Eles se concentram sobremaneira nas eleições majoritárias do Executivo. O Legislativo fica no segundo plano durante todo o período eleitoral. Depois do primeiro turno, aí temos um espaço um pouquinho maior, nos dias seguintes à eleição. E somente para registrar os nomes dos eleitos e suas fotinhas.

Ombudsman - A cobertura é irregular ao longo de toda a legislatura?
Palma -
Não há uma cobertura especializada, a não ser no caso de organizações não-governamentais. Apesar da importância da Câmara Municipal de São Paulo, que só perde para a de Nova York em tamanho e orçamento, os jornais só cobrem quando tem escândalo ou algum assunto muito importante.

Ombudsman - Como os jornais poderiam melhorar essa cobertura?
Palma -
A imprensa deveria trabalhar num sentido de complementaridade. Há atores novos, como as ONGs. Se elas forem comprovadamente idôneas e explicitarem seus critérios de monitoramento, a imprensa pode se beneficiar desse trabalho. A função da grande imprensa talvez seja a de cobrir o Congresso Nacional. Mas o poder local, aquele que é concreto para o cidadão, não pode ser desprezado. Nós sabemos quanto ganha um jogador de futebol, quanto ganha um apresentador de televisão, mas não sabemos quanto custa um posto de saúde na nossa rua.



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