São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2010

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OMBUDSMAN

SUZANA SINGER - ombudsman@uol.com.br
@folha_ombudsman


Razões de mãe


Reportagem que criticava blogs maternos expõe entrevistada (e filho) sem dar voz suficiente a ela


VOCÊ COLOCARIA fotografias das várias fases do seu filho em um blog? Muita gente diria que não, algumas que sim.
Você tiraria uma foto sorrindo, com o seu filho no colo, para uma reportagem com o título "Mães colocam crianças em "Baby Brother" na internet"? Todo mundo, com alguma sanidade, responderia que não.
A Folha, infelizmente, não fez essa segunda pergunta à entrevistada na reportagem publicada no domingo passado (http://bit.ly/fX92Jh). O texto, que falava de blogs maternos, em que mulheres contam o desenvolvimento dos filhos e trocam experiências, condenava, na boca de três especialistas, esses sites.
A foto era da autora do site "Nascendo uma Mãe", Giovana Reobol, 35, com Lucca, 2. "Fui procurada para falar sobre blogs com histórias de crianças, não sabia que a discussão era sobre expor intimidades", reclama Giovana.
A Redação afirma que o texto "constatou um fenômeno" e que a entrevistada foi questionada sobre os prós e os contras dessa prática. "A repórter me perguntou sobre privacidade, só que o foco da entrevista não era esse, falei muito pouquinho. A questão foi "en passant'", conta Giovana.
Para os estudiosos ouvidos pela Folha, esses blogs são perigosos, porque podem ser acessados por criminosos, dão margem a "bullying" e podem fazer com que a criança cresça sem noção de intimidade, sem respeitar a própria e a do outro. "Por que essa mãe alimenta essa necessidade?", perguntava uma psicóloga da USP.
"Ficou a impressão de que sou uma péssima mãe. E ainda uma idiota alienada, que aceita aparecer sorrindo numa reportagem como essa", diz Giovana, que afirma selecionar as imagens e mensagens postadas para não constranger o menino no futuro.
Não havia na reportagem nenhuma voz dissonante entre os especialistas, o que provocou, com razão, a ira das blogueiras. Em um post no Facebook, decretaram: "Maus jornalistas mexeram com a categoria errada: mães".
Elas afirmam que esses sites ajudam a trocar experiências, a diminuir a insegurança e a fazer novas amizades, além de trazerem dicas práticas sobre gravidez, amamentação, doenças infantis etc.
A empresária Carolina Longo, 31, do blog "Mulher e Mãe", postou que "a matéria trata todas nós, mães blogueiras, como se nossa única intenção fosse expor a família". "A mulher que vira mãe é massacrada por julgamentos, como se não bastasse ter de lidar com suas próprias culpas. Além disso, a maternidade gera uma certa reclusão. Junte esses fatores e você terá mulheres angustiadas e sem poder colocar isso para fora. Nos blogs e no Twitter, elas encontraram uma conexão com outras que passam pelas mesmas angústias", defende.
Tudo indica que a Folha não entendeu as mães blogueiras -ou não deu voz suficiente a elas. Nada contra levantar as possíveis consequências negativas dessa prática, alertar para os riscos, mas a reportagem ficou apenas nisso. Incorreu em alguns problemas clássicos do jornalismo: falta de transparência com o entrevistado, tratamento superficial do tema e visão única dos "especialistas", chamados quase sempre a opinar genericamente, sem examinar os casos enfocados.
A Folha acabou, ao denunciar mulheres que exibem suas crianças na rede, fazendo pior. Expôs injustamente mãe e filho, em um veículo de alcance muito maior que o de um blog de interesse restrito.

EU AMO FUSCA

No final de semana passado, a Folha provocou revolta também nos fãs do Fusca. A capa da Ilustrada de sábado começava assim: "Era feinho, desconfortável e barulhento. Tinha fama de não deixar ninguém na mão, mas, já em seus últimos suspiros no Brasil, em 1996, era carro de pobre, suburbano, ou nostálgico". Várias pessoas criticaram a frase preconceituosa. "É impressionante ver alguém da imprensa destilar uma idiossincrasia dessas", escreveu Daniel Marchi, que se define "advogado, professor universitário e dono dedicado de seis Fuscas, uma Kombi e uma Brasília".


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Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Suzana Singer/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


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