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Folha omite convite e fere ética
A norma sobre viagens de
jornalistas da Folha que não
são pagas pelo jornal já constava do "Manual Geral da Redação" de 1987: "A Folha informa com clareza, no pé do texto, que o jornalista teve
suas despesas pagas pelo patrocinador".
Quatro meses atrás, atualizou-se o verbete "Ética" do
"Manual", reafirmando: "No
caso de viagens, quando o convite é aceito e resulta em texto
publicado, o jornal informa
com clareza que o jornalista
teve suas despesas pagas pelo
patrocinador".
Nem duas décadas asseguraram a aplicação dessa cláusula de transparência, introduzida pela Folha no jornalismo brasileiro.
Domingo e segunda, Esporte anunciou o lançamento do
carro de Fórmula 1 da Ferrari.
Uma enviada a Maranello, Itália, assinou as reportagens.
Sem avisos sobre "patrocínio", considerei que o jornal
financiava a cobertura. Na
crítica diária (acesso livre
em www.folha.com.br/ombudsman), observei: "Como ficou claro nas duas últimas edições, a Folha não enviou repórter "a convite". Ou
seja, bancou a viagem do seu
profissional".
Condenei a prioridade: na
Itália, havia assuntos mais importantes a apurar, o processo
sobre a disputa de empresas
de telefonia em terras brasileiras e a ação judicial concernente à Operação Condor.
Na terça, saiu mais um relato sobre a Ferrari, ofuscando a
notícia sobre o novo carro da
McLaren, que deveria ser o
destaque.
Silêncio sobre convite.
O alerta de que a jornalista
"viaja a convite da Ferrari"
só apareceu na quinta, com
texto simpático à escuderia
produzido em Madonna di
Campiglio, estação de esqui
onde os pilotos ferraristas
promovem a firma. A overdose extemporânea de Ferrari
seguiu na sexta e ontem.
Indaguei a Redação sobre a
omissão nas edições iniciais.
Esporte respondeu que em
Maranello não havia convite,
exclusivo para a ida à estação
de esqui. Insisti: quem pagou a
passagem aérea para a Itália?
Enfim, a verdade: a Ferrari.
Por três dias, o jornal sonegou a informação aos leitores.
E fez de bobo o ombudsman,
que acreditou -e escreveu-
não haver convite e se dedicou
a discutir "prioridades".
Agora, a Secretaria de Redação afirma "que foi um erro
não ter dito que a repórter
viajou a convite em todas as
matérias".
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