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OMBUDSMAN
O futuro dos grandes
MARCELO BERABA
O Projeto Inter-Meios, da
revista Meio & Mensagem,
concluiu o levantamento do desempenho do mercado publicitário em 2004, e o resultado é bom
para as empresas jornalísticas.
Segundo a pesquisa, o faturamento dos jornais com publicidade teria crescido 15,41% no
ano passado. Outro levantamento, do Almanaque Ibope,
constatou um resultado até melhor, 20,2%.
Esta é a notícia boa. A ruim é
que a circulação dos jornais estagnou, em 2004, num patamar
baixo de venda. Segundo cálculo
fechado pela ANJ (Associação
Nacional de Jornais) a partir dos
dados do IVC (Instituto de Verificação de Circulação) e das estimativas colhidas com os diários
não auditados pelo instituto, a
circulação média diária no ano
passado cresceu míseros 0,8%.
Os jornais venderam em 2003
uma média diária de 6,470 milhões de exemplares e, em 2004,
6,522 milhões. Se a comparação
for com 2000, a queda é de 17%.
Ou seja, a curva é decrescente, e
ainda não é possível se afirmar
que as vendas pararam de cair.
A situação para os três grandes
jornais é ainda pior. Eles vêm
caindo sem interrupção desde
1996. Em 1995, a Folha chegou a
vender uma média diária de 606
mil exemplares. Terminou o ano
passado com uma média de 308
mil. Como em 2003 tivera uma
média de 315 mil exemplares
diários, a queda em um ano foi
de 2,3%.
Os desempenhos do "Estado" e
do "Globo" não são muito diferentes. O jornal do Rio, que naquele mesmo longínquo 1995
chegou a vender 412 mil exemplares por dia, encerrou 2004
com uma média de 257 mil. Em
relação a 2003 teve um crescimento pífio de 4.000 exemplares
por dia, e foi o único. O "Estado",
que no seu auge alcançou 385
mil exemplares, terminou 2004
com 233 mil, 10 mil a menos do
que no ano anterior. Se tomamos por base o ano 2000, os três
jornais perderam juntos 31%.
Quando suas vendas aos domingos, estimuladas artificialmente por brindes e enciclopédias, passaram da casa de 1 milhão de exemplares, a Folha chegou a se comparar aos maiores
jornais do Ocidente em circulação. Na última lista da WAN
(World Association of Newspapers), de 2003, não há nenhum
jornal brasileiro entre os cem
maiores do mundo. Nenhum. O
centésimo da lista, "The Arizona
Republic", dos Estados Unidos,
tem uma média diária de 597
mil exemplares.
Esses dados devem fazer os
grandes jornais refletirem. A
queda de circulação não pode
ser explicada apenas pela crise
financeira que atravessam, ou
pelo preço. Menos ainda, agora,
pela conjuntura econômica.
Nos Estados Unidos, os diários
também vêm perdendo circulação. Mas lá, ao contrário daqui,
há uma discussão grande sobre o
futuro dos jornais, e não envolve
apenas empresas e jornalistas
mas a sociedade.
Os cidadãos dos Estados Unidos, da Europa e do Brasil já não
dependem tanto dos jornais para se informar. Têm cada vez
mais opções rápidas de acesso a
informações, como as TVs (abertas e de notícias) e os sites e blogs
noticiosos da internet.
Essa competição expôs mais
claramente as deficiências dos
jornais, seus defeitos sobressaíram. Leio diariamente uma ladainha de reclamações de leitores: o jornal está chato, as informações estão incompletas, os assuntos são sempre os mesmos, o
repórter não entendeu o caso, o
jornal está mal informado, a informação está errada, os argumentos editoriais são cínicos, e
por aí vai.
Uma das causas que se avaliam nos Estados Unidos para
explicar a fuga de leitores é a
perda de credibilidade dos jornais. Vários episódios recentes,
como a descoberta de reportagens inventadas e a cobertura
enviesada da Guerra do Iraque,
questionaram a seriedade dos
jornais.
E no Brasil? Um dos pontos
que as empresas e os jornalistas
têm de se perguntar é se a desconfiança não é um dos fatores
que estão corroendo a credibilidade e, por tabela, a venda dos
grandes jornais.
Não nego que outros fatores
devam estar contribuindo para
isso, como a falta de investimento das empresas em campanhas
e, principalmente, em bons profissionais, e a competição com
outros meios. Mas é provável
que esta palavrinha, credibilidade, deva ter um peso grande na
evasão de leitores.
Está mais do que na hora de
este debate chegar às páginas
dos jornais.
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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman,
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