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SUZANA SINGER - ombudsman@uol.com.br
@folha_ombudsman
Sem ajuda dos universitários
"ESSE BANCO aí é do Silvio Santos?
Quer dizer que ele ficou pobre?". As
perguntas vieram de uma mulher
que não costuma ler jornal, mas se
interessou pela manchete de sexta-feira da Folha ("Quem pagar leva a
rede SBT, diz Silvio Santos", na edição São Paulo).
A notícia do rombo no banco
PanAmericano é uma daquelas raras oportunidades de atrair a atenção do público em geral para a, muitas vezes, imperscrutável cobertura
econômica. Pena que o jornal não a
tenha aproveitado bem.
O caso estourou na terça-feira. Às
17h38, uma nota no site do "Estado
de S. Paulo" dizia enigmaticamente:
"O Banco Central fará um anúncio
de peso após o fechamento do mercado logo mais. Nada a ver com o
câmbio". É um aviso típico do jornalismo pós-internet: não vale nada
para o leitor comum, já que não diz
do que se trata, mas serve para espicaçar os concorrentes ("somos bem
informados, vem bomba aí").
A notícia mesmo apareceu às
19h46, quando o "fato relevante", o
aporte de R$ 2,5 bilhões, foi anunciado. Dava tempo de a Folha preparar um bom material para a edição das 23h. Já se sabia àquela altura qual era o tamanho do rombo,
que havia fortes suspeitas de fraude
e que o banco pertencia em parte à
Caixa Econômica Federal. Tudo isso
somado ao envolvimento de uma
personalidade conhecidíssima tornava a notícia irresistível.
Mas, na quarta-feira, o jornal
trouxe apenas uma pequena chamada, na parte de baixo da Primeira Página. No caderno Poder - porque Mercado está sendo obrigado a
terminar sua edição às 19h-, só um
texto que mal dava conta do factual.
No dia seguinte, o PanAmericano
foi alçado à manchete do jornal, a
cobertura cresceu, mas a qualidade
ainda deixava a desejar.
O médico Teeve Rabinovici, 52, reclamou: "Por curiosidade, li tudo sobre o banco PanAmericano. Sou leigo em economia, porém me acho razoavelmente inteligente. É sempre
dificílimo entender essas matérias,
que afinal são publicadas em um
jornal não econômico. Não dá para
simplificar mais?".
Dá sim, dr. Teeve. Didatismo é
uma "qualidade essencial do jornalismo e um dos objetivos básicos do
Projeto Folha", diz o "Manual de
Redação". Todo texto, recomenda-se, deve ser redigido com base no
princípio de que o leitor não está familiarizado com o assunto.
A editoria de economia precisa
fazer disso um mantra. Desde a crise
financeira de 2008, entender o que
se passa com bancos deixou de ser
um luxo. Cabe à Folha usar todo o
seu arsenal -quadros, metáforas,
análises, históricos- para tornar o
mundo financeiro inteligível ao leitor, sem que ele tenha de "perguntar
aos universitários".
A entrevista com Silvio Santos, na
sexta-feira, único gol da Folha nessa cobertura, revela outra faceta do
jornalismo atual. A colunista Mônica Bergamo ignorou assessores de
imprensa e ligou para a casa do
apresentador. Com perguntas objetivas e respostas diretas, travou-se
um diálogo precioso para o leitor.
Abusando da ironia, o empresário deu seus recados: disse que não
tem responsabilidade sobre o rombo, que a culpa é de quem ele contratou para administrar, que não falou com Lula sobre isso e que gostaria de vender as empresas.
Na mesma página de Mercado,
uma reportagem com Eike Batista
contava que o empresário havia dito
em um evento no Rio que tinha interesse no Grupo Silvio Santos, mas
que, "mais tarde, ele voltou atrás e,
por meio de sua assessoria de imprensa, negou a possibilidade de
comprar o SBT". Ou seja, alguém o
convenceu a desdizer-se.
Num mundo em que assessores e
marqueteiros evitam "expor" seus
clientes -basta lembrar as eleições
passadas-, uma conversa como essa com Silvio Santos torna-se um
momento raro. É o encontro de um
empresário que domina como ninguém a própria imagem e que não
tem medo da mídia ("capricha, bota
uma foto minha bem bonita") com
uma jornalista perseverante.
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Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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