São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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Reportagem versus manchete


O momento mais duro para o jornal e o jornalista é o do erro. A grandeza está, respeitando os leitores, em reconhecê-lo

A manchete de domingo passado da Folha continha uma informação grave: "Entidade alertou Lula de falhas no controle aéreo". Completava-a o subtítulo "Vistoria no Cindacta-1 foi feita em outubro; FAB não comenta relatório".
Além do título principal da primeira página, havia outro sobre o assunto, em Cotidiano: "Relatório já apontava controle aéreo inseguro".
O subtítulo: "Documento da federação internacional de controladores, feito após acidente com o Boeing da Gol, foi enviado a Lula".
As formulações estavam erradas. Foi o que sustentei na crítica diária da segunda-feira -distribuídas no começo da tarde à Redação, as críticas são divulgadas ao mesmo tempo na Folha Online (www.folha.com.br/ombudsman).
A ótima reportagem revelava que, já no ano passado, um relatório da Ifatca (Federação Internacional das Associações dos Controladores do Tráfego Aéreo) constatava que "o sistema de controle de tráfego aéreo brasileiro é falho e tem um nível baixo de segurança".
Ao contrário do que afirmava a manchete, contudo, o relatório havia sido remetido a uma entidade de aviação civil e a uma de pilotos. Não a Lula. Ao presidente da República, a Ifatca propôs consultoria.
Na terça, o jornal reconheceu em "Erramos" a impropriedade do subtítulo de Cotidiano: "O relatório preparado pela Ifatca não foi enviado ao presidente Lula. O que a entidade enviou ao presidente foi uma carta para oferecer assessoria e consultoria".
No mesmo dia, observei na crítica do ombudsman que o "Erramos" era certo, mas faltava corrigir a primeira página. O texto da carta a Lula, a julgar pelo trecho publicado, não continha as conclusões do relatório. Logo, o Planalto não fora "alertado".
Na sexta à noite, o jornal se preparava para publicar na edição de ontem um "Erramos" da manchete dominical, além de um texto em Cotidiano explicando o equívoco.
A correção demorou e não tem o mesmo espaço da notícia, o que é uma pena. Mas fez muito bem a Folha em se corrigir. O momento mais duro para o jornal e o jornalista é o do erro. A grandeza está, respeitando os leitores, em reconhecê-lo.


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