São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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ENTREVISTA

"O "NYT" continua muito arrogante"

Recebi ontem uma mensagem do ombudsman do "NYT", o editor público Daniel Okrent, sobre o caso Rohter. "Creio que o texto foi TECNICAMENTE correto, no sentido de que as acusações foram atribuídas a fontes identificadas, mas insisto no termo "tecnicamente". Gostaria que tivesse oferecido mais contexto sobre as motivações das pessoas que ele ouviu e fiquei muito perturbado pela fotografia, que no contexto pareceu ter sido apresentada como prova. Teria sido da mesma forma correto mostrar uma foto de Lula NÃO bebendo, mas isso não produziria o mesmo efeito. Devo acrescentar que a decisão de cancelar o visto de Rohter não se justifica se cremos na liberdade de imprensa -isso sugere que escrever criticamente pode resultar em punições".
Okrent, 56, é o editor público do "NYT" desde dezembro de 2003. A função foi criada após se descobrir que um dos repórteres do jornal, Jayson Blair, inventara várias reportagens.
Entrevistei Okrent no dia 3, durante a conferência da ONO (organização que reúne ombudsmans de mídia), em St. Petersburg (EUA), antes, portanto, da reportagem sobre Lula. Nesta entrevista, ele fala de suas dificuldades como ombudsman, sobre a crise do jornalismo e sobre a arrogância do jornal de Nova York.

 

Ombudsman - Como está o trabalho de editor público?
Daniel Okrent -
Muito tenso, no meio de muitas discussões entre leitores irados e jornalistas na defensiva.

Ombudsman - Como vê a crise do jornalismo?
Okrent -
Nos EUA houve uma crise progressiva por duas razões principais: pela perda de confiança do público e pela situação política do país. E há um outro problema sério. Não está claro o papel dos jornais neste momento. Somos de uma época em que os jornais tinham um papel dominante. Agora, com as TVs a cabo, internet e outros meios, há um fracionamento. Antes, as fontes falavam para poucos veículos, e era suficiente. Agora, não mais. A circulação dos jornais caiu, mas o número das pessoas que buscam informações em outros meios cresceu.

Ombudsman - Você acredita que o ombudsman possa melhorar um jornal?
Okrent - Pode ajudar o jornal a estar mais aberto aos leitores. Não é que melhore, mas ajuda jornal e leitores a se entenderem e a evitar erros horríveis.

Ombudsman - O grande problema do "NYT", e que provocou a crise Blair e suas conseqüências, foi a arrogância?
Okrent -
Sim, foi a arrogância. E o jornal continua muito arrogante. Quando lhe dizem durante muito tempo que você é o melhor e o mais importante, você começa a acreditar. E, se me permite, ele é.


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Marcelo Beraba é o ombudsman da Folha desde 5 de abril de 2004. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Marcelo Beraba/ombudsman, ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


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