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Palavras que traem
Patrick Baz - 18.set.2007/France Presse
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Mercenários posam para foto em telhado de casa em Bagdá |
Ao maneirar nos vocábulos, distorcem-se
os acontecimentos; a Folha deveria refletir e rejeitar o embrulho elegante de eufemismos
O "NEW York Times",
um dos melhores jornais do planeta, costuma perpetrar o eufemismo
"técnicas severas de interrogatório" ao descrever a tortura
de militantes e terroristas islâmicos pela Agência Central de
Inteligência.
Nessa classificação se inscrevem as "simulações de afogamento" dos presos, executadas por funcionários da CIA.
Não se trata de simulação ou
severidade, mas de tortura.
A Folha republica textos do
diário nova-iorquino, e as traduções não podem ser infiéis
ao original. Deveria refletir,
contudo, sobre a reprodução
de relatos que adulteram fatos
ao não denominá-los pelo nome certo. Pior é incorporar a
impropriedade. No sábado retrasado, o jornal assumiu como sua, na primeira página, a
formulação "técnicas severas
de interrogatório". Associou-se ao desatino alheio.
Assim como ao nomear uma
fração das tropas dos EUA que
lutam no Iraque como "soldados privados". Em bom e velho português, eles são "mercenários", e não "agentes particulares de segurança", variante que igualmente já saiu.
O jornal sabe disso. Por vezes, alterna as expressões, privilegiando "soldados privados", carimbo mais simpático
do que escancarar a condição
dos que lutam por dinheiro.
Noutras, só se lê o eufemismo.
Ao maneirar nos vocábulos,
distorcem-se os acontecimentos. É direito da polícia chamar armas suas de "bombas
de efeito moral". Mas a Folha
deveria rejeitar o embrulho
elegante -há efeitos físicos.
Acumulam-se exemplos.
Um deles: insiste-se no termo
"parceria" nas referências à
negociata entre MSI e Corinthians. Palavras legitimam e
deslegitimam. Contam verdades e as traem. Como o antigo
compositor cearense dizia,
"palavras são navalhas". Também no jornalismo.
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