São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ombudsman@uol.com.br

Jornais têm recorde de leitores


Dados da mídia americana mostram que o desafio dos jornais não é a audiência, e sim seu modelo econômico

OS JORNAIS americanos nunca tiveram tantos leitores como atualmente. A afirmação parece um contrassenso para quem acompanha a avalanche de péssimas notícias sobre as condições de sobrevivência de muitos dos melhores diários impressos dos EUA.
Mas não é. Na 29ª reunião da Organização dos Ombudsmans de Imprensa (ONO), que tem como associados cerca de cem jornalistas que exercem esta função em todo o mundo (da Austrália à Turquia) e que ocorreu entre domingo e quinta-feira em Washington, Tom Rosentiel explicou as razões. Ele é o diretor do Projeto para Excelência no Jornalismo, que desde 2004 publica na internet relatório anual detalhado sobre a situação da mídia, "The State of the News Media" (veja abaixo o link para o capítulo sobre os jornais). Os dados mostram que o público não rejeita o modelo dos jornais "tradicionais". Ao contrário. "O desafio dos jornais não vem da audiência, vem do seu modelo de sustentação econômica", afirma Rosentiel.
Apesar de o preço do jornal impresso para o consumidor ter subido muito nos últimos cinco anos, o decréscimo de sua circulação tem sido comparativamente pequeno.
E suas versões eletrônicas têm tido aumento de audiência muito superior ao da média da internet (27% contra 7% em 2008).
O "Washington Post", por exemplo, em 1999 vendia 786 mil cópias impressas; agora, vende 665 mil, mas seu site tem 9,4 milhões de visitantes únicos por mês.
O problema é que a receita publicitária das edições impressas cai dramaticamente (16% em 2008 em relação a 2007) e a das edições eletrônicas cresce milimetricamente. É claro que a crise financeira contribui para agravar o quadro, mais recentemente. Mas essas tendências já vinham sendo consistentes fazia muito tempo. Sites não jornalísticos tomaram os classificados dos diários; a TV paga lhes tirou boa parte da publicidade geral. E o anunciante ainda não se convenceu da eficiência do anúncio na tela.
Rosentiel acha que a única saída é mudar o modelo econômico. E não acredita nas propostas mais comentadas no momento (o jornal cobrar pequena quantia por acesso a cada matéria ou ser sustentado por universidades ou fundações).
Para ele, há outros caminhos, mais criativos, de fazer com que informação útil volte a gerar receita suficiente para manter a cara operação de produzir o jornalismo de boa qualidade.
Para encontrá-los, jornalistas e empresas têm de estar preparados para mudar muito valores, práticas e processos a que estão acostumados.
Se fizerem isso, será possível evitar o choro ao final do filme indicado abaixo, ambientado numa redação de jornal, que faz uma homenagem ao bom jornalismo como se ele estivesse nos estertores.


PARA LER
"The State of the News Media Newspapers", do Pew Project for Excellence in Journalism (http://www.stateofthemedia.org/2009/narrative_newspapers_audience.php?cat=2&media=4)

PARA VER
"Intrigas de Estado", de Kevin Mcdonald, com Russel Crowe e Ben Affleck, com estreia prevista no Brasil para 12 de junho de 2009


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Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Carlos Eduardo Lins da Silva/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
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