São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA - ombudsman@uol.com.br

Como atrair os jovens para o jornal


Em vez de concentrar esforços para chamar para si os jovens, o jornal parece preferir esperar que eles sozinhos substituam seus pais como leitores

A JUDAR A CRIAR e manter nas crianças e adolescentes o hábito da leitura no papel deveria estar entre as prioridades máximas da estratégia de todo veículo de comunicação impressa.
Os sinais de que os jovens sentem enorme atração pelos signos digitais são ostensivos e indiscutíveis.
Os riscos de empobrecimento intelectual com o fim da leitura tradicional também são bastante conhecidos.
O neurocientista Ken Pugh, da Universidade Yale, especialista em cognição infantil, diz que a leitura no papel é "sem dúvida mais enriquecedora cognitivamente" do que as informações rápidas e intermitentes obtidas na tela do computador pela internet.
O esforço da Folha para conquistar leitores das faixas etárias iniciais se concentra em dois suplementos semanais: a Folhinha, que circula desde 1963 aos sábados, e o Folhateen, que sai às segundas desde 1991.
Há pelo menos duas abordagens editoriais possíveis para esse tipo de produto. Uma é defendida pela leitora Doralice Araújo, professora em Curitiba, grande entusiasta de causas educacionais e mantenedora de um dinâmico blog (http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/blog/namira).
Eles "devem ser material de apoio, de consulta e de assertividade" para a função de alunos de seus leitores, defende.
Mônica Pinto Rodrigues da Costa, ex-editora da Folhinha, em tese de mestrado indicada abaixo, ressalta a importância do lúdico e do estético nos cadernos para jovens.
Vai na direção de intelectuais espanhóis citados em reportagem de "El País" de 3 de janeiro, para quem o principal objetivo do texto impresso para jovens deve ser o prazer de ler, não a instrumentalização didática.
As duas visões parecem opostas, mas são complementares. É difícil conjugá-las, mas não impossível. E os dois semanários deste jornal o têm conseguido com frequência.
Graficamente, eles parecem tentar, como outros veículos e a Folha inteira, mimetizar a internet, seu ziguezague que constrói uma cornucópia de palavras, imagens e símbolos, e reproduzir o ambiente de multitarefas que caracteriza a atividade do jovem diante da tela.
Se a tática funciona é um tema em aberto. Acho que não. Mas careço de comprovação empírica para o meu palpite.
O que assusta é a aparente pouca importância que o jornal dá ao assunto. Para medir o seu grau de relevância para ele, encaminhei à Secretaria de Redação dez perguntas.
Recebi uma resposta só, curta, sob o argumento de que a maioria das informações solicitadas é sigilosa.
"A Folha acredita que a melhor forma de atrair o público jovem é produzir, diariamente, um jornal melhor, independente, mais completo, aprofundado e com a preocupação de ser crítico e plural. Todos os dias e em todos os seus cadernos, busca trazer diferentes aspectos da realidade."
É uma declaração, em minha opinião, desanimadora. Em vez de concentrar esforços e recursos para chamar para si os jovens, o jornal parece preferir esperar que eles sozinhos, ao amadurecerem, venham a substituir seus pais e avós como leitores, apesar das indicações de que tal reposição não está acontecendo.
Vários jornais pelo mundo preferiram caminho diferente e estão investindo pesadamente na conquista do leitor jovem via papel e internet e com o auxílio da escola. Espero que a Folha os estude e siga seu exemplo.


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Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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