São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2001

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Sinal de alerta

O jornalista se assemelha ao homem público em vários aspectos. O principal: ambos têm a possibilidade de atuação vinculada à capacidade da sociedade de assegurá-la, por meio da democracia.
Por isso, tal como governantes e parlamentares, repórteres e editores têm, sim, contas a prestar.
Quanto à honestidade, por exemplo: não basta ser, tem que parecer honesto.
Tudo isso a propósito de mais um caso em que o relacionamento entre fonte e jornalista faz pensar o quanto a vigilância do leitor é indispensável.
Aconteceu terça passada, quando jornais noticiaram que a editora da "Veja" Eliana Simonetti fora demitida por manter relacionamento que a revista julgou "impróprio" com o lobista Alexandre Paes dos Santos, investigado pela Polícia Federal.
Segundo a PF, a agenda de APS trazia o nome da jornalista e, mais do que isso, seu número de conta corrente.
Em conversa com o ombudsman, Eliana nega que o namoro -depois amizade- com APS tenha influenciado seu trabalho jornalístico, confirma ter recebido dinheiro dele (em torno de R$ 40 mil ao longo de alguns anos) como empréstimo pessoal e diz que a revista sempre soube, desde o início dos anos 90, de seu relacionamento íntimo.
O secretário de Redação da "Veja", Julio Cesar de Barros, me disse que a demissão ocorreu principalmente por conta do laço financeiro, revelado à revista na segunda-feira, e que sua direção só soube da intimidade pessoal entre APS e sua editora na sexta-feira anterior.
Desse episódio, uma lição é clara: o jornalista não tem direito à ingenuidade.
Seu relacionamento com a fonte tem de ser profissional.
Não é por dispor do número de celular de um ministro ou saber o nome de suas filhas que ele deve se considerar amigo da fonte.
Se a intimidade, apesar disso, se constrói de verdade, deve caber ao jornalista a iniciativa de comunicá-la a seus superiores, mudar de área de cobertura ou, até, de veículo. Caso contrário, com culpa no cartório ou não, poderá sair arranhado de episódios como o que envolveu "Veja", APS e a jornalista Simonetti.



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