São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

ombudsman@uol.com.br

Por que tão poucos ombudsmans?


A Folha foi o primeiro veículo de imprensa no país a criar, no dia 24 de setembro de 1989, o cargo de ombudsman


ALBERTO DINES, precursor do ombudsman no país:
"Não se meta nisso, você só vai ganhar inimigos!..." O sábio Octavio Frias de Oliveira tentava persuadir-me a não iniciar coluna de crítica de imprensa na Folha. Como sempre, Frias acertou na mosca. Nós, jornalistas, fazemos cobranças e detestamos ser cobrados. Por isso ninguém quer passar a vida brigando com colegas de profissão. Além do mais, os criticados estão sempre em cargos de chefia.

CAIO TÚLIO COSTA, primeiro ombudsman da Folha:
Porque a imprensa se conhece e sabe o quanto seu produto acaba sendo inexato, incompleto, injusto; daí a insegurança (primeira razão) em se submeter a escrutínio público. Porque, se um concorrente se deixa escrutinar, é mais cômodo acusá-lo de "jogada de marketing", não copiar (segunda). Porque é caro (terceira) manter profissional em função tão indesejada (quarta). Porque é difícil encontrar ingênuos (quinta) que aceitem a função. Porque os limites do cargo são os empresariais (sexta) e essa indústria lida de forma esquizofrênica com limites.

MARIO VITOR SANTOS, duas vezes ombudsman da Folha e uma do iG:
Porque a atividade é temida e evitada. Quando feita de maneira independente e crítica, gera agastamento com jornalistas e é fonte de problemas "de imagem" para os gestores dos veículos. Ombudsmans acabam expondo a manipulação das informações, seja para uso político, obtenção de audiência, ou ambos, o que é a regra na maioria dos veículos.

MARA GAMA, ombudsman do UOL:
No limite, o ombudsman acaba por deixar evidente também a falibilidade de sua própria ação. E sendo passível das mesmas falhas de seus colegas, por que contratá-lo? Será que ele pode mesmo enxergar e atuar criticamente no confronto com seus pares? Isso pode soar contraditório e provocar descrédito. O público por vezes se revolta quando se depara com o limite da ação do ombudsman.

ERNESTO RODRIGUES, ombudsman da TV Cultura de São Paulo:
Nós, jornalistas, gostamos de denunciar, mas não de nos considerar parte desse mundo de muitos erros. Nossa arrogância costuma ser inversamente proporcional ao espaço que reservamos para a confissão de nossos erros. E nosso pior pecado é acreditar que todo o resto do material publicado é sempre correto, preciso, relevante, ético e responsável.

ROBERTO HIRAO, ex-ombudsman da "Folha da Tarde" e autor do livro indicado ao final:
Atribuo o quadro ao desinteresse (ou seria receio?) dos grupos empresariais que controlam os jornais em se abrir ao público. Essa situação é agravada pela apatia de boa parte dos jornalistas.

ANDY ALEXANDER, ombudsman do "Washington Post":
A crise financeira provoca demissão de ombudsmans. Há crescente sentimento de que a blogosfera pode oferecer o escrutínio que o ombudsman provê. Mas essas justificativas podem só encobrir o fato de que os líderes das empresas de comunicação não gostam de ver seu desempenho criticado.

ALICIA SHEPARD, ombudsman da National Public Radio:
Em tempos economicamente difíceis, cortar o posto de ombudsman é fácil, já que ele não é essencial para colocar um jornal ou rádio no ar. Mas é essencial para aumentar sua credibilidade.

JUDITH BRITO, presidente da Associação Nacional de Jornais:
Em primeiro lugar, porque custa. Segundo, porque, entre as opções para ser mais profissional, a criação da função de ombudsman é a mais arrojada. Requer coragem e maturidade porque o trabalho do ombudsman é expor problemas e criticar o trabalho dos colegas. Não é fácil conviver com esta situação.

ROBERTO MUYLAERT, presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas:
Porque é mais fácil e rápido, embora mais sujeito a erros, realizar trabalho de mão única, da Redação para o leitor, do que interagir com alguém de dentro de casa, cuja missão é apontar falhas. Só profissionais maduros recebem bem as críticas construtivas.

PARA LER
"70 lições de jornalismo", de Roberto Hirao, Publifolha (a partir de R$ 23,32)

PARA VER
"Sabatina com o ombudsman", na íntegra a partir de amanhã à noite nem www.folha.com.br/092591


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Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Carlos Eduardo Lins da Silva/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


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