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Na educação, é essencial ir fundo
O simples aumento do
espaço para a educação é
pouco; o importante mesmo
é a qualidade da cobertura
EM 42 DIAS , entre 4 de maio e a
segunda passada, a Folha deu
quatro manchetes principais
para assuntos referentes a educação. Não é comum nos jornais brasileiros, este inclusive, dar tanto destaque a temas que não sejam de economia, política ou internacional.
Em minha avaliação e na de muitos leitores, esta prática de relegar
questões sociais a segundo plano é
um dos piores vícios do jornalismo.
Nos 14 meses em que exerço este
cargo, manifestei diversas vezes o
desejo do público de que a educação
volte a ter na Folha a prioridade de
que desfrutava nas décadas de 1970
e 1980 e que perdeu.
Parece que a Redação está atendendo a esses apelos. Em 2008, até
o dia 17 de junho, 72 matérias sobre
educação haviam aparecido na primeira página; no mesmo período
em 2009, foram 90.
Muitas trataram de problemas da
rede pública estadual, como livros
didáticos com erros ou conteúdo
inadequado para a faixa etária dos
alunos que os receberam e o excesso
de professores temporários.
Outras de projetos ou realidades
nacionais, como os exames do
Enem, o bom resultado acadêmico
dos bolsistas do ProUni, o censo
educacional e o alto índice de desistência dos alunos de supletivos.
Perguntei à Redação se houve ordem para privilegiar a educação. A
resposta foi: esta é uma prioridade
editorial deste ano por ser "assunto
que conjuga óbvia importância nacional e de interesse imediato do
leitor" e porque em pesquisas "costuma aparecer entre os primeiros
itens apontados por assinantes".
É ótimo que o jornal aquiesça à
vontade expressa de sua audiência.
Nem sempre isso ocorre. Mas o
simples aumento do espaço e destaque para a educação é pouco. A Redação me informa que "está em discussão" criar uma seção ou página
de educação, como fez no ano passado para saúde. Outra boa possibilidade, mas ainda insuficiente.
A página de saúde foi muito bem-vinda, mas com frequência trata
mais da "saúde privada" (que não
raramente resvala para o supérfluo)
do que de políticas públicas, que interessam muito mais à sociedade.
Espero que uma editoria de educação não incorra nesse modelo.
Mas importante mesmo é a qualidade da cobertura. Há duas semanas a USP está engolfada em grave
crise, e o trabalho deste jornal ao
cuidar dela tem sido muito frágil,
em minha avaliação.
Embora duas
das reivindicações dos grevistas (aumento salarial dos funcionários e
não implantação de cursos de graduação a distância) tenham finalmente sido objeto de reportagem
nesta semana, o resultado foi superficial nos dois casos.
Como fez em 2008 na greve dos
professores paulistas, o jornal não
vai fundo nos problemas que motivam esta na USP. E ir fundo é essencial quando o assunto é educação.
PARA LER
"Mídia e Educação", de Roseli Araújo Batista,
Thesaurus, 2007 (R$ 25)
PARA VER
"Entre os Muros da Escola", de Laurent Cantet,
de 2008, em exibição em São Paulo
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