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O jornal na tela
RENATA LO PRETE
Há muito tempo a Internet é,
de longe, o meio mais utilizado
para fazer contato com a ombudsman, que hoje se corresponde com o leitor mais do que
fala com ele.
Só recentemente, no entanto,
começou a crescer em ritmo significativo o número de mensagens que não tratam da Folha
impressa, mas sim da que se lê
na tela do computador.
O protesto mais antigo e recorrente diz respeito à limitação
de acesso ao site (www.folha.com.br). Ele só pode ser navegado por assinantes do Universo Online, do mesmo grupo
que edita o jornal, ou da própria Folha.
A empresa considera a restrição estratégica e enumera as
vantagens à disposição do
usuário do UOL, maior provedor de acesso e conteúdo de Internet da América Latina.
Muitos leitores não se sentem
satisfeitos com a argumentação
e lembram que os concorrentes,
assim como quase todos os jornais estrangeiros, não cobram
pelo acesso.
Mas há também manifestações diárias sobre as lacunas da
edição eletrônica, que não são
poucas. Um leitor sente falta
das cotações do caderno Dinheiro. Outro pergunta onde estão as fichas dos jogos de futebol
e a classificação dos campeonatos.
Um terceiro procura em vão
pelo mapa de previsão do tempo. Uma leitora que mora no
Rio e vai passar um final de semana em São Paulo não encontra o roteiro de teatro para escolher seu programa.
A última falha é excepcional e,
pelo que apurei, já foi sanada.
As demais são crônicas e têm a
mesma origem: a inexistência
de gráficos, tabelas e quadros
em geral na edição eletrônica.
É certo que se pode achar parte das informações ausentes em
outros endereços do próprio
UOL, mas não há motivo para
aceitar que não constem da Folha, já que existem no papel.
A falta de infografia não priva
o leitor apenas de ilustrações de
apoio aos textos. Em alguns casos, deixa o conteúdo sem pé
nem cabeça.
Há poucos dias, um economista me relatou sua tentativa frustrada de ler uma reportagem do
Folhainvest sobre estudo que
elegeu os melhores sites de bancos. "Percebi que havia apenas o
texto de abertura. O ranking e a
pontuação das instituições não
foram colocados no ar, inutilizando completamente o material." Sua pergunta: "Como algo
que fala sobre serviços online
não sai online?"
Mesmo a transposição de textos não é líquida e certa. Há três
semanas, seis leitores me procuraram para reclamar porque
não havia, na edição eletrônica,
um artigo sobre a Grécia publicado no Mais!.
"Não é a primeira vez que isso
acontece", protestou o mais irado. Ele havia lido o texto na edição impressa e planejava enviá-lo a um amigo.
O problema, descobri na Redação, é que os direitos do jornal sobre o referido artigo não
se estendem à Internet.
Seja pelo espaço ilimitado, seja pela possibilidade de atualização contínua, a vocação do
jornal online é superar o impresso em conteúdo. Na prática,
porém, o site da Folha ainda é
uma versão bastante empobrecida do que o papel oferece.
O jornal reconhece o atraso e
vem tomando providências para vencê-lo. O novo editor da
Folha Internet, Cássio Starling
Carlos, acredita que, até o final
de dezembro, será percebido
avanço significativo na questão
da infografia.
Ele prevê para o início do ano
a introdução de recursos que integrem a reprodução do material impresso com o noticiário
em tempo real. Acrescenta que a
interatividade, até agora inexplorada no site, também estará
presente.
"Até por cobrar pelo acesso, o
jornal tem a obrigação de oferecer mais do que a transposição
do produto em papel", diz.
É saudável que a preocupação
exista, porque há leitores cansados de esperar por mudanças
nessa área. "São exatamente
2h49. Constato, mais uma vez,
que vocês parecem não se preocupar em cumprir horários", escreveu um deles na semana passada. "Dizem que a atualização
do site é feita às 2h30, o que já é
absurdo. Agora, passar disso é
falta de respeito."
O editor não vê possibilidade
técnica de baixar o horário de
2h30 no curto prazo, mas afirma que foram tomadas medidas para que ele seja cumprido.
O leitor termina: "Um jornal
do porte da Folha deveria dar
mais atenção a nós, internautas". Justo. Internautas já são
muitos. Não vai demorar muito
até que sejam a maioria dos leitores.
Elementar, meu caro
Na quarta-feira, a Folha relatou o caso de uma senhora assaltada, em São Paulo, por homens que se fizeram passar por
funcionários da Telefônica.
Segundo a reportagem, a polícia já havia registrado duas histórias semelhantes em semanas
recentes, o que levou o jornal a
descrever as características do
"golpe do telefone": o aparelho
fica mudo; falsos técnicos (com
crachá, uniforme e ferramentas) se apresentam para realizar
o conserto; uma vez dentro da
casa, rendem as vítimas e levam
o que for possível.
No caso da moradora do Butantã, ameaçada com revólver e faca durante o assalto,
foram jóias e dinheiro.
Descrito o golpe, a reportagem
passou a mostrar como evitá-lo.
"Se houver dúvida, a pessoa deve ligar para a Telefônica e checar se a equipe está a caminho."
A empresa "orienta o assinante
que receber propostas suspeitas
a ligar para o número 104".
Um novo sistema, prometido
para o final do ano, incluirá
uma central telefônica para a
qual o cliente, "de posse das informações do crachá, poderá ligar e verificar se o técnico é ou
não cadastrado".
Parecia tudo resolvido. Um
leitor, no entanto, apresentou
uma dúvida simples: "Como o
consumidor vai ligar, se o telefone está mudo?" De fato, se não
houver celular à mão, ou outro
número na casa, o conselho é
inútil.
À primeira vista, trata-se de
uma boa anedota. Mais do que
isso, é exemplo de um defeito
crônico do jornal.
Reportagens ensinam a evitar
este ou aquele transtorno, sugerem o que fazer com seu dinheiro e indicam o melhor horário
para viajar na véspera do feriado. Informações de interesse,
sem dúvida. Acontece que, espremidas as dicas, sobra pouca
coisa aproveitável. A maior parte oscila entre a obviedade e o
disparate.
Muitas vezes, o que é vendido
como orientação ao leitor
não passa de reprodução irrefletida do que
diz a fonte. Aparentemente, não ocorreu à Redação que
as instruções da
Telefônica não vão
resolver o problema de quem está
com a ameaça à
porta.
A menos que se recorra à solução criativa sugerida pela secretária do Departamento de Ombudsman: a vítima pode pedir ao ladrão para
esperar um minuto enquanto
vai até o vizinho, ou ao orelhão
mais próximo.
"Eu havia acabado de ler, no
artigo do professor Pasquale, a
máxima de que "título bom é o
que cabe" ", escreveu um leitor
na quinta-feira. "Foi quando vi,
no caderno Cotidiano, o título
"Blecaute deixa Porto Alegre na
escuridão". O que vocês queriam? Que o blecaute deixasse a
cidade como uma lapinha?"
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Renata Lo Prete é a ombudsman da Folha. O ombudsman tem mandato
de um ano, renovável por mais dois. Ele não pode ser demitido durante o exercício do cargo e tem estabilidade
por seis meses após o exercício da função. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva do leitor
-recebendo e verificando as reclamações que ele encaminha à Redação- e comentar, aos domingos, o noticiário
dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Renata Lo Prete/ombudsman,
ou pelo fax (011) 224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br. |
Contatos telefônicos:
ligue (0800) 15-9000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira. |
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