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Sobre jornalismo
Os jornais noticiaram no sábado, dia 15, o assassinato do estudante de jornalismo Rafael Azevedo Fortes Alves, de 21 anos, no
campus da USP, por um colega de
curso da Escola de Comunicações
e Artes (ECA). Rafael foi morto
com uma facada no peito por Fábio Le Senechal Nanni, também
de 21 anos.
Um horror. Um daqueles dramas que marcam indelevelmente
as famílias, os amigos e os colegas.
Um daqueles casos que nenhum
jornalista gosta de fazer. Mas é um
crime e assim deve ser tratado,
com todos os cuidados que nem
sempre temos com os dramas
alheios.
O "Jornal do Campus", da USP,
escolheu não fazer a cobertura
jornalística do fato. Abalados com
as circunstâncias da morte de Rafael, os estudantes que fazem o
jornal prefeririam publicar apenas um registro ("ECA em luto
pela morte de estudante de jornalismo") e um editorial ("Sobre
meninos e lobos") em que fazem
uma dura crítica ao trabalho da
imprensa.
Reproduzo os trechos mais fortes do editorial por achar que é
um bom caso para a reflexão nossa e desses jovens jornalistas que
ainda não chegaram ao mercado.
"Naquele dia, dezenas de jornalistas da grande mídia nos abordaram e ligaram em nossos celulares, como lobos ávidos pelas fotos e por depoimentos exclusivos
que havíamos conseguido enquanto Fábio era preso, e usaram
os meios mais baixos possíveis
para tentar obtê-los.
Presenciamos o trabalho desses
profissionais e pudemos constatar que o que lhes interessava era
buscar títulos fortes e matérias
carregadas de drama nem que para isso tivessem que constranger
alunos a dar entrevistas ou explorar a imagem dos que sofriam.
Muitos veículos, principalmente
da internet, publicaram matérias
tendenciosas, sensacionalistas,
maniqueístas e mal apuradas.
Cremos que a divulgação de
nossos documentos só teria um
objetivo: alimentar uma imprensa ávida por sangue. Em respeito à
fonte e à ética, o "JC" não divulgará
seu material de apuração. Decidimos também por não publicar reportagens sobre o caso, visto que
o fato foi explorado à exaustão pela mídia. A forma mais respeitosa
de lidar com o acontecido, diante
da dor dos outros e da nossa própria, é publicar este editorial, um
símbolo de luto."
Entendo e respeito a dor desses
estudantes. Mas estou convencido de que fizeram a escolha errada ao abdicar do jornalismo. Não
vou entrar no mérito da avaliação
que fizeram dos repórteres escalados para a cobertura do caso. Mas
a melhor resposta que poderiam
ter dado ao sensacionalismo teria
sido uma cobertura bem-feita no
"JC". Uma cobertura como a que
gostariam de ter lido na imprensa.
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