São Paulo, domingo, 24 de abril de 2011

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OMBUDSMAN

SUZANA SINGER - ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman

PRATO FEITO


Na "síndrome da matéria pronta", o jornalista se convence da notícia e não considera a versão oficial


A "SÍNDROME da matéria pronta" é uma doença resistente, que acomete, em maior ou menor grau, todas as Redações. O jornalista vítima desse mal apura com fontes anônimas determinada informação, convence-se dela e chega para ouvir a versão oficial com um "prato feito" que nunca é alterado.
Aconteceu duas vezes na Folha no último dia 11. Na Ilustrada, quem sofreu as consequências dessa síndrome foi o autor de novelas Walcyr Carrasco. A coluna "Outro Canal", dedicada à TV, publicou que uma "operação de guerra" estava sendo montada para ""salvar a audiência" de ""Morde & Assopra".
A coluna dizia que a trama ficaria mais lenta, com mais humor, e que o destino de alguns personagens mudaria. O nome do autor aparecia duas vezes, mas nenhuma declaração sua foi publicada.
"A matéria é inverídica, baseada em fontes não citadas. Minha entrevista não foi usada porque não atendia ao tom escandaloso que se pretendia", escreveu Carrasco.
Como autor da novela, ele diz ser "a única pessoa" a par dos caminhos de cada personagem, o que desacreditaria outras fontes.
O investimento em novelas é tão grande -e a audiência delas é seguida tão de perto- que o autor não é mais o senhor único do enredo: há pesquisa de opinião, colaboradores, diretor, muita gente envolvida que pode vazar informações. Mas não faz sentido omitir o protagonista da notícia. "Não reproduziram minha versão, mesmo que ao lado de fofocas", diz Carrasco.
Com Silvio Tendler, aconteceu algo parecido. A versão final do seu documentário sobre Tancredo Neves ficou sem a cena em que se diz que Paulo Maluf fez doação de dinheiro ao político mineiro. A reportagem dizia ter "apurado que houve autocensura na equipe de Tendler para não incomodar a família" (leia-se Aécio Neves).
Desta vez, as negativas de Tendler foram registradas, mas ele não ficou satisfeito. "Por que fui entrevistado se havia outras fontes? Se sou o responsável pelo corte final, quem foi o ventríloquo que falou por mim?", pergunta o cineasta. Ele diz que a cena foi cortada por uma questão de tempo e de foco.
Mais uma vez, faz sentido questionar a fonte principal, mas a indignação do entrevistado é compreensível, já que ele atende alguém que não lhe dá ouvidos.
Para o leitor, o melhor é que a informação seja sempre atribuída a alguém. Se for necessário usar o "off", é imprescindível dar um bom espaço à fonte principal. E levá-la, de fato, em consideração.


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Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
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