São Paulo, domingo, 25 de maio de 2008

Próximo Texto | Índice

Erros repetidos viram mentira

Gil Passarelli - 26.out.67/Folha Imagem
Briga entre alunos apenas do Mackenzie registrada em 67

Joe Rosenthal - 23.fev.45/Associated Press
Marines dos EUA fincam a 2ª bandeira americana no monte Suribachi, e não a primeira

John Filo - 4.mai.70
Imagem de alunos da Kent State University sem adulteração


Foto que virou ícone do movimento estudantil brasileiro de 1968 (no alto) foi registrada em outubro de 1967 e não envolvia alunos da USP

DIZEM que uma mentira repetida mil vezes vira verdade. Pois erros que se repetem muito podem virar mentiras. Até em fotos.
Em 13 de maio, recebi o leitor Renato Martinelli, que veio relatar um erro que o jornal vem repetindo e o tem incomodado há décadas.
A foto do alto virou ícone do movimento estudantil brasileiro de 1968 por ter sido sistematicamente identificada como retrato da "batalha da rua Maria Antonia" entre estudantes da USP e do Mackenzie.
A mais recente reincidência do engano ocorreu no dia 4 deste mês, no caderno Mais!.
Como o leitor me documentou, a foto é de 26 de outubro de 1967, registra uma briga entre alunos apenas da Universidade Mackenzie e saiu na capa da edição do dia seguinte da Folha.
Ela mostra um grupo de jovens de direita que tentava destruir a urna da eleição para a diretoria da União Estadual dos Estudantes, disputada pela chapa Nova UEE (com José Dirceu candidato a presidente e o mackenzista Américo Nicolatti a vice), pela Frente Universitária Independente (liderada pelo PCB) e pela Frente de Trabalho, da situação (liderada pela AP).
Gil Passarelli (1917-1999), um dos melhores repórteres-fotográficos que este jornal já teve, ganhou o Prêmio Esso de Fotografia com ela. Mas até em livro de sua autoria, a foto saiu como se fosse de 1968. O Banco de Dados da Folha corrigiu a legenda no arquivo em 2001, mas ela voltou a sair errada.
Martinelli desejava corrigir a falha para atenuar uma distorção histórica: a impressão de que no Mackenzie só havia conservadores. Ele e vários colegas lutaram pela democracia numa frente de centro-esquerda, e não é justo que isso não seja devidamente reconhecido.
A segunda foto é outro erro repetido. De Joe Rosenthal (1911-2006), ela retrata a segunda bandeira americana hasteada no monte Suribachi em 23 de fevereiro de 1945, não a primeira. E esse gesto não representou o fim da batalha pela ilha de Iwo Jima, que ainda perduraria por 31 dias, com o custo de 6.821 vidas americanas.
A outra foto, do confronto entre a Guarda Nacional e os estudantes da Kent State University, também tem um erro em sua história. De John Filo, então estudante de fotojornalismo, de 4 de maio de 1970, foi por décadas reproduzida com uma adulteração (o poste que aparece atrás da moça foi apagado para melhorar a composição) até o autor, atualmente editor da CBS News, se dar conta e restaurá-la.


Próximo Texto: O caso Alstom
Índice


Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Carlos Eduardo Lins da Silva/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.