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Precipitação
Cobertura do jornal sobre o noticiário político
erra ao publicar informações incompletas e
que ainda carecem da devida comprovação
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A
FOLHA PUBLICOU na
quinta-feira, com o título "CPIs terminam
com muitos indiciados e poucos punidos", um grande balanço dos resultados das três
Comissões Parlamentares de
Inquérito que dominaram o
noticiário político ao longo do
ano passado e deste primeiro
semestre, as CPIs dos Correios, dos Bingos e do
Mensalão.
Ficou claro para os que
acompanharam as atividades
dessas comissões que todas
elas se renderam aos acordos
partidários, e isso certamente
contribuiu para tolher as investigações. A imprensa tem
uma responsabilidade parcial
nos resultados frustrantes das
CPIs. Em raros momentos ela
conseguiu escapar da dependência das informações colhidas e manipuladas nos bastidores das comissões e avançar
por conta própria.
Ainda agora vemos como a
cobertura é falha. Nesta semana a Folha publicou duas reportagens que ilustram bem
as nossas deficiências.
Na segunda-feira, o jornal
publicou um texto falho a partir do título -"João Paulo pode ter recebido R$ 30 mil a
mais de Valério". João Paulo
Cunha (PT) é o ex-presidente
da Câmara e Valério é o empresário Marcos Valério de
Souza, que ajudou o PT a levantar recursos para distribuição entre parlamentares.
A reportagem se desmancha já no título, que usa o verbo poder como uma possibilidade, mas sem nenhuma segurança. O título já deixa claro
que não tem provas. É até possível que o deputado tenha
realmente recebido mais dinheiro do esquema, mas as investigações dos técnicos da
CPI dos Correios que abasteceram a Folha ainda não comprovam. Na quarta-feira, o
jornal publicou uma longa
carta do deputado que contesta a reportagem. Não vou entrar no mérito dos argumentos dele, que exercia ali o legítimo direito de defesa e que, se
estiver mentindo, mais cedo
ou mais tarde será desmentido pelas provas que aparecerão. Mas ele tem razão quando
diz que o emprego do verbo
"poder" neste caso indica
"conjectura".
Outro caso parecido ocorreu na edição de sexta-feira,
numa reportagem sobre a "lista de Furnas". A lista é um documento contestado com uma
relação de políticos da oposição que teriam se beneficiado
de verbas desviadas de Furnas
para a campanha eleitoral de
2002. A oposição acusa o governo de ter forjado a lista,
que é objeto de investigação
da Polícia Federal.
A reportagem da Folha
-"Cópia da lista de Furnas difere do original"- é baseada
numa "carta apócrifa". Um
jornal como a Folha não pode
publicar uma reportagem baseada em "carta apócrifa".
Recebi do editor de Brasil,
Fernando de Barros e Silva, a
seguinte explicação: "A informação de que o original da lista de Furnas periciado pela PF
não é igual ao xerox que o lobista fez circular no final de
2005 foi apurada pela Folha.
O jornal não se baseou na carta apócrifa, mas em investigação própria com outras fontes.
A carta "apócrifa", que, segundo afirma a mesma reportagem, foi escrita por assessores
do PSDB mineiro, apenas registra a mesma informação.
Talvez o texto não tenha deixado isso suficientemente
claro".
Na minha opinião, o subtítulo e o texto deixam claro que
a fonte do jornal é a tal carta.
Esses dois casos mostram
como o jornal está sendo precipitado na publicação de informações não comprovadas.
Nos dois casos relatados, ele
tinha informações importantes para iniciar uma apuração
própria em busca de provas.
Mas preferiu publicá-las incompletas. O resultado é o
descrédito.
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