São Paulo, domingo, 26 de junho de 2011

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OMBUDSMAN

SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman

FRUGAL DEMAIS


O novo Comida segue fórmula conhecida, com boas fotos, receitas e elogios, sem surpresas


FALTA PIMENTA ao novo caderno Comida. Lançado em maio passado, o suplemento nasceu para fazer concorrência ao "Paladar", do "Estado de S. Paulo", que também circula às quintas-feiras.
Não é uma missão fácil: já estabilizado, o "Paladar" soube explorar esse frenesi gastronômico que tomou São Paulo nos últimos anos. Parece que todo o mundo que tem dinheiro e tempo de sobra quer aprender a cozinhar, entender de vinhos e conhecer os lugares "imperdíveis" aqui e no exterior.
A Folha já se havia aventurado nessa seara com o pioneiro "Comida", homônimo do atual, editado por Josimar Melo entre 1988 e 1991. Era muito cedo, São Paulo não tinha tamanha variedade de restaurantes nem uma burguesia tão interessada em ceviches, emulsões ou em redução de vinho do Porto.
Só que a Folha esperou demais. Deixou o concorrente correr sozinho por seis anos até decidir enfrentá-lo. Com tanto tempo para gestar um produto de impacto, acabou saindo com um arroz com feijão correto, bem apresentado, mas sem sal.
A fórmula é bem conhecida: belas fotos de pratos, abertas em tamanho de pôster, seções manjadas ("o desafio ao chef" é igualzinha a uma que morreu no "Paladar"), umas tantas receitas e os mesmos cozinheiros de sempre.
Em tempos de azeitonas esferificadas por Ferran Adrià, dá para exigir mais criatividade do jornal. As capas: carne de porco, Festa Junina, Dia dos Namorados, o centenário do Catupiry -os bons pauteiros têm horror a efemérides- , comida de candomblé, louças para chefs e, a última, "o limão".
Falta pegada jornalística, é tudo pasteurizado, com um tom excessivamente laudatório. Não se trata de pedir um "caderno do contra", porque a Folha já tem uma sanha denunciatória que domina da política ao esporte. Mas poderia dar-se mais ênfase ao que vai contra o senso comum, como fez Josimar Melo certa vez ao demolir mitos culinários de São Paulo -sua crítica ao sanduíche do Mercado Municipal ("quase meio quilo de mortadela para quase nada de pão") provocou torrentes de reações.

ÚTIL
Outra vertente a ser explorada nessa cobertura é a de testar entregas, atendimento, preços e produtos. Ir a vários lugares e comparar, como fez a revista sãopaulo recentemente, quanto se cobra pelo mesmo vinho em diferentes restaurantes. São reportagens que poupam tempo e trabalho para quem lê.
É preciso buscar novos nomes, ampliar a turma de 20 chefs que ocupam 95% dos textos sobre comida em todos os veículos, inclusive nos blogs, e dar voz a outros talentos.
O caderno é novo, começou em banho-maria, mas dá tempo de colocar mais tempero nesse caldo servido toda semana aos leitores.


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Suzana Singer é a ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Suzana Singer/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
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