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Imprensa e poder
Fábio Konder Comparato
acaba de lançar "Ética - Direito, moral e religião no mundo
moderno" (Companhia das
Letras) e preside o Fórum da
Cidadania pela Reforma Política criado pela OAB.
OMBUDSMAN - Como avalia o papel dos meios de comunicação no
mundo moderno?
FÁBIO KONDER COMPARATO - Não
podemos esquecer que os
meios de comunicação de
massa modernos são uma forma de poder. Eticamente, todo poder tem que se submeter
aos grandes princípios políticos, notadamente aos princípios republicano e democrático.
De modo geral, os grandes
veículos de comunicação de
massa são empresas sob controle de empresários e eles se
lançam nesse terreno, a meu
ver, menos para ganhar dinheiro do que para exercer poder. Ora, é muito difícil que, ao
assim proceder, os empresários ajam com verdadeiro espírito republicano, vale dizer,
pondo o bem comum do povo
acima dos seus interesses particulares. Então, seria indispensável que nós estudássemos alguns instrumentos para
a realização de um controle
republicano do poder dos
meios de comunicação de
massa.
OMBUDSMAN - O senhor defende
um controle feito pela sociedade
ou pelo Estado?
COMPARATO - No caso dos jornais, o que me parece muito
importante é o alargamento
do direito de resposta. Digamos que um jornal faça uma
campanha que se julgue discriminatória em relação a determinada parcela da população. Teoricamente, salvo
quando existe crime ou dano
civil, há intervenção da autoridade pública e do Ministério
Público. Mas o que se quer é
uma discussão pública do assunto. As ONGs que representam esses interesses coletivos
deveriam ter direito de resposta. Afinal das contas, embora os jornais não se utilizem, como o rádio e a televisão, de um espaço público, ou
seja, de um espaço que pertence ao povo, eles exercem poder
sobre a opinião pública.
OMBUDSMAN - Como o senhor
avalia a imprensa brasileira na cobertura política?
COMPARATO - Está faltando
uma visão que ultrapasse o nível da representação política.
É claro que esta não pode ser
descartada e deve ser aperfeiçoada. Mas o fundamental é
introduzir a democracia direta ou participativa. O povo deve ter o direito de decidir o futuro do país. As decisões a esse
respeito não podem ser tomadas exclusivamente pelos chamados representantes do povo. A política de endividamento público, por exemplo, representa a maior transferência de renda dos pobres para
os ricos que esse país já conheceu. A Folha tem tocado muito nesse ponto, mas o que falta
é ir até o fundo, ou seja, isto
tem que ser decidido pelo povo. Esse é o sentido maior que
falta dar aos jornais. Eles exercem freqüentemente uma crítica importante da ação dos
agentes públicos, mas de natureza em geral negativa. Falta desenvolver uma crítica
propositiva, apresentando e
discutindo soluções para os
problemas do país.
OMBUDSMAN - A imprensa tem
contribuído para manter o cidadão
bem informado?
COMPARATO - Ela se preocupa
com os escândalos políticos,
porque eles rendem discussão.
Mas eu não vejo, com raras exceções, um trabalho reflexivo
para reformar em profundidade o sistema político nacional.
É preciso discutir sobre a etiologia da moléstia. Nós estamos
numa fase de doença ética.
Precisamos saber as suas causas, a fim de decidir a terapêutica a adotar.
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