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São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2003

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Vendendo o peixe (réplica)

Reproduzo a seguir, com autorização do autor, e-mail que me foi enviado pelo jornalista Gilberto Dimenstein, do Conselho Editorial da Folha, a partir do texto "Vendendo o peixe", de domingo passado, no qual abordei criticamente o uso, por parte de colunistas, de seu espaço regular no jornal para divulgar projetos, ações ou empreendimentos que realizam paralelamente à sua atividade na Folha:
"Sem o interesse de polemizar, nem de ver esta carta publicada, mas apenas o de colaborar com a instigante e fértil reflexão de sua coluna, de domingo passado, gostaria, uma vez que fui citado sem ser ouvido, de expor-lhe algumas considerações:
A Cidade Escola Aprendiz, da qual fui fundador, é um laboratório de pesquisas, sem fins lucrativos, em que dezenas de educadores testam programas para melhorar, pelo fortalecimento comunitário, a educação pública. Alguns desses programas foram reconhecidos como modelos mundiais de educação pela Unesco.
Um dos projetos que o Aprendiz ajudou a construir ganhou uma das mais importantes condecorações internacionais destinada a apontar inovações comunitárias, entregue pelo Social Accountability Internacional, em que participam candidatos de todo o mundo.
Neste mês de dezembro, a Cidade Escola foi homenageada como referência nacional no Prêmio Itaú-Unicef, mais importante concurso nacional de programas complementares à educação.
O Aprendiz foi indicado pelo Banco Mundial como uma referência brasileira de inclusão social e consta em estudo de caso feito pelo PNDU, órgão voltado ao desenvolvimento das Nações Unidas.
Sei que, no seu comentário, você não quis entrar em méritos. Sinto-me, porém, obrigado a listar alguns dos prêmios para lhe mostrar uma visão alternativa às suas considerações.
Na sua coluna, você considera inadequado que eu tenha citado o Aprendiz em algum dos meus artigos. A Cidade Escola Aprendiz é um laboratório de experimentações, sem qualquer outro propósito do que o de disseminar tecnologia social. Por que, então, seria inadequado compartilhar, desde que, óbvio, criteriosa e ocasionalmente, eventuais achados desses educadores?
Afinal, tenho procurado relatar em meus artigos experiências, dentro e fora do Brasil, de fortalecimento comunitário. Também escrevi sobre projetos que conheci na Universidade de Columbia, em Nova York, onde era acadêmico-visitante e depois do board do programa de educação em direitos humanos.
Em Nova York, fui consultor (não remunerado, assim como no Aprendiz) do Unicef, o que me fez tomar contato com excepcionais programas na África e Ásia. Deveria me omitir de falar dessas descobertas? Minha maior satisfação e sensação de missão jornalística cumprida é ver que muitas dessas informações influenciaram políticas públicas.
A legitimidade da minha coluna ao abordar questões sociais se deve ao fato de que, além de ver, ouvir, ler, participo de experimentações.
Mas admito, como você aponta, que sempre haverá uma linha fina entre promoção e compartilhamento de conhecimento, o que é parte do crônico debate jornalístico sobre os limites da objetividade.
Também admito que sempre haverá a necessidade de atenção especial para quem, como eu, vê a informação, na ótica do jornalismo comunitário, como elemento de educação e se envolve em atividades sociais, colocando a mão na massa, o que encaro como um dever dos cidadãos.
A diversidade e a riqueza dos colunistas não estão apenas na diversidade de opiniões, acadêmicas, mas em suas vivências criativas, feitas de erros e acertos -e minha vivência é a mistura de educação com comunicação, na busca de uma linguagem diferente.
Se tivesse de fazer promoção, bastaria apenas ter divulgado, como estou fazendo agora forçado pelas circunstâncias, os numerosos prêmios que o Aprendiz tem obtido por seus programas. Poderia até ter sugerido que a Folha, como faz com outros prêmios de jornalistas da casa ou que tenham relevância pública, os divulgassem.
Mas isso não aconteceu porque o importante é disseminar conhecimento num país, metido nesse buraco de violência, desesperadamente carente da disseminação de tecnologia social. Esse é o peixe que tento vender para ajudar a ensinar a pescar."


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