São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007

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... sem drama e sofrimento

Imagine o desespero das centenas de pacientes e funcionários que por volta das 22h da segunda-feira, noite de Natal, saíram às carreiras de dois prédios do Hospital das Clínicas depois de um incêndio logo sufocado, mas cuja fumaça provocou pânico.
É tudo o que os leitores puderam fazer após o primeiro dia de relato da Folha, na quarta (a edição da véspera foi concluída antes do episódio): imaginar. Não tiveram a oportunidade de conhecer o drama de quem estava no maior hospital da América Latina.
Em uma edição burocrática e fria, o jornal não publicou o testemunho de quem foi socorrido e de quem socorreu. Não é que não tenha contado bem. Não contou nada. Não se leu o depoimento de ninguém que fugiu do fogo.
As páginas gélidas se desenharam já na primeira, quando o incêndio e suas conseqüências para milhares de pessoas cujo atendimento foi prejudicado não mereceram mais que o título em apenas uma das seis colunas verticais, distante da manchete.
Dentro, não se acompanharam sustos, lágrimas e alívios. Apenas textos pálidos, sem sangue nem alma.
Pedi a palavra da Secretaria de Redação: "Houve erro de avaliação do plantonista responsável pela madrugada, que não considerou necessário ir ao local nem avisar as chefias. Isso prejudicou a cobertura".
Com efeito, chegar tarde ao lugar dos fatos atrapalha o trabalho jornalístico, como evidenciam as fotografias (no fotojornalismo, não há como "reconstituir" cenas a partir da voz de quem as viveu).
Mas o atraso na madrugada não impedia a Folha de, na manhã da terça, constatar que o sofrimento de muita gente fora maior do que a impressão original. Bastava dispor-se a procurar quem tinha o que falar e reconhecer a relevância jornalística das histórias.
Se não desse, que se apurasse à tarde. Ou ainda à noite (a edição São Paulo/DF foi "fechada" à 0h35). Vacilos nos plantões da madrugada acontecem, e nenhum jornalista deixou de cometê-los.
Pior é quando o jornal não se comove com a dor dos que passaram a noite do Natal nas calçadas do HC -e priva seus leitores de conhecê-la.


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