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Médicos e monstros

Papel do jornal é trazer luz para esse debate extremado sobre o novo programa de saúde do governo federal

A importação de médicos cubanos equivale a encher um "avião negreiro", como tachou a colunista Eliane Cantanhêde, ou os médicos brasileiros que fazem oposição ao programa do governo são "corporativistas" que "colocam a vida de pacientes abaixo de seus interesses", como acusou Gilberto Dimenstein?

A discussão em torno do Mais Médicos pegou fogo nesta semana. As posições favoráveis e contrárias são tão extremadas que fica difícil para o leitor formar uma opinião.

Quais as reais condições de trabalho oferecidas aos cubanos? Está certo exigir que passem por um exame duro (Revalida), se eles vão lidar com atenção básica à saúde? O que os médicos brasileiros que criticam tanto a vinda dos estrangeiros propõem para melhorar o atendimento nas periferias das metrópoles e no interior?

Não são perguntas simples e o papel do jornal nessa hora é trazer luz ao debate. A Folha vinha razoavelmente bem nessa cobertura. Fez reportagens relevantes, abriu espaço para a polêmica e, na terça-feira passada, teve a sensibilidade de publicar na capa a fotografia de um médico cubano sendo vaiado por colegas brasileiros, que também gritavam: "Escravo, escravo!"

Era uma imagem forte, que acabou sendo usada pelos que defendem o programa para tentar deslegitimar as críticas, movidas, segundo eles, por puro preconceito.

Na sexta-feira, foi a vez de o jornal dar munição aos que condenam o Mais Médicos, com a manchete "Prefeitos demitirão médicos locais para receber os de Dilma". Só que desta vez a Folha errou um pouco a mão, a começar pelo título infeliz - "os médicos de Dilma" são o cardiologista Roberto Kalil Filho e o oncologista Paulo Hoff, do Hospital Sírio-Libanês, não os que estão inscritos no programa.

A reportagem elencava 11 cidades do Norte e do Nordeste que decidiram trocar profissionais para ficar com os selecionados pelo governo federal. A vantagem seria uma economia no orçamento municipal, já que a União bancará o salário dos contratados pelo programa.

Segundo o texto, essa troca de mão de obra "ameaça o objetivo do programa", que é diminuir a carência de médicos. Foi dado grande destaque à médica Junice Moreira, demitida do município de Sapeaçu (BA) para, segundo colegas de cooperativa, "dar lugar a um cubano".

Embora uma das regras básicas da Folha seja sempre ouvir o "outro lado", o Ministério da Saúde não foi procurado.

Foi precipitado dar manchete para os 11 casos relatados, que correspondem a 2% dos 539 municípios que serão atendidos nessa etapa do Mais Médicos.

Pode-se imaginar que a Folha detectou a ponta de um iceberg, ou seja, que muitos prefeitos planejam essa manobra. Se tivesse ouvido antes o Ministério da Saúde, o jornal teria registrado que há um cadastro on-line que permite ao governo monitorar mudanças de equipe e punir os municípios que fizerem trocas.

Das 11 cidades listadas com a intenção de substituir médicos, três contestaram as informações publicadas. As prefeituras de Barbalha (Ceará), Sapeaçu e Jeremoabo (Bahia) negam que vão trocar seus profissionais pelos do governo federal.

O coordenador da Agência Folha afirma que a apuração está correta e que as entrevistas estão gravadas - à exceção de Jeremoabo, cuja prefeitura não conseguiram contatar.

Na avaliação da Redação, não havia necessidade de ouvir o Ministério da Saúde, porque "não se trata de uma acusação contra o governo". "O outro lado eram as prefeituras dos municípios."

O Mais Médicos vai começar de verdade amanhã, quando os primeiros profissionais chegarem aos municípios carentes. Vai ficar mais fácil espanar as nuvens ideológicas e avaliar, na prática, a qualidade do programa. Tomara que o jornal não deixe essa novela esmorecer.


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