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SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman

Barrigada

Há muito tempo não se via a imprensa toda ser levada no bico. A "supergrávida de Taubaté" enfiou uma bola embaixo do vestido, disse que esperava quatro Marias e fez as principais TVs e jornais do país cometerem uma "barriga" monumental -o jargão designa a publicação de informação errada.

Não se sabe o que motivou a farsa, mas tão importante quanto entender o comportamento da mulher é entender o da mídia.

A história surgiu em 2 de janeiro, quando uma emissora de TV de Taubaté, alertada por uma prima da pseudográvida, fez uma reportagem sobre o caso, veiculada regionalmente. Quatro dias depois, a Rede Globo entrevistou a mulher no "Bom Dia SP" e no site "G1", e aí todo o mundo foi atrás, em manada.

Na Folha, a "supergrávida" saiu com destaque, sob a vinheta "foco", usada para casos pitorescos, que fogem do noticiário comum. A reportagem, feita por telefone, trazia apenas declarações dela e de um médico sobre a probabilidade de ocorrer gravidez natural de quádruplos.

Era mais uma dessas notícias que dão audiência na TV, na internet e que os jornalistas se veem compelidos a reproduzir. O jornal anda cheio de casos assim -lembram-se do cachorrinho Titã, que, supostamente enterrado vivo, pode nem ter sido vítima de maus-tratos?

É incômodo para a Redação ignorar os temas quase sempre banais que inflam a audiência da Folha.com. Parece significar dar as costas a uma multidão. Acontece então o pior dos dois mundos: com desdém, recuperam-se os temas populares, sem muita preocupação com a apuração.

Não que fosse óbvio desconfiar daquela barriga esquisita. No contexto da armação, dá para entender que os repórteres tenham acreditado na dona de escola do interior de São Paulo, casada, mãe de um menino, que contava carregar quatro bebês no ventre. O fotógrafo da Folha colocou a mão na barriga dela e não notou nada estranho.

Vergonha maior não é ter sido ludibriado, mas não assumir a sua parcela de responsabilidade. Quando descobriram que foram enrolados, os jornalistas partiram ferozes para cima da falsa grávida, esquecendo-se de qualquer mea-culpa.

O texto da Folha sobre a farsa, publicado no último dia 21, dizia apenas que o jornal se baseou em declarações da mulher. Isso todo mundo tinha percebido.

Questionada se houve erro, a Secretaria de Redação respondeu que "faltou tratar o caso com mais ceticismo". "A luz amarela deveria ter-se acendido, sobretudo quando a falsa grávida, alegando razões de foro íntimo, se recusou a passar o contato do seu médico", diz.

Era uma informação importante, que deveria ter sido dada ao leitor já na primeira reportagem. Soaria como música para os ouvidos mais ressabiados.

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