| Índice | Comunicar Erros
Ombudsman SUZANA SINGER - ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman Quem (se) vende mais? Transparência e imparcialidade, dois pilares do bom jornalismo, são esquecidos sempre que se escreve sobre circulação de jornais. A Folha e o "Estado" brindaram recentemente seus leitores com pseudorreportagens sobre os números de 2011. Em 29 de janeiro, o "Estado" alardeou a sua dianteira no mercado paulista: "'Estado' cresce e amplia liderança em São Paulo". No domingo seguinte, foi a vez de a Folha destacar seu primeiro lugar em todo o país ("Folha lidera na edição impressa e digital"). Basta uma comparação entre os gráficos publicados pelos dois jornais para notar que a última preocupação era informar corretamente. O "Estado" fez apenas o quadro "Mercado Paulista", com as cifras da capital, da Grande São Paulo e do Estado, justamente os três campos em que bate o concorrente. A Folha também deu só os números favoráveis: a circulação no país, no interior de São Paulo e nos outros Estados. Omitiu a capital e o total do território paulista. Contou que vende mais assinaturas digitais do que o concorrente, mas se esqueceu de dizer que o crescimento total dele no ano passado foi superior ao seu (7,5% contra 0,9%). Excluídos os jornais populares (vendidos por até R$ 0,99), um resumo justo apontaria a liderança da Folha no país, o segundo lugar do "Globo", mas ressaltaria a força que o "Estado" mantém entre os paulistanos. A Folha tem uma influência nacional muito superior à do concorrente direto, mas não consegue vencê-lo na sua cidade de origem, onde está o principal foco do mercado publicitário. O único ponto de concordância entre os competidores é comemorar o crescimento do meio jornal: ambos citaram o aumento de 3,5% de exemplares vendidos no país no ano passado (4,4 milhões por dia), o que é um alento no cenário apocalíptico desenhado para os impressos. O "modus operandi" dos dois jornais é igual nesse tipo de texto. Ambos pinçam dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação), responsável por auditar jornais e revistas do Brasil, buscam uma boa declaração do presidente do órgão, entrevistam os seus próprios executivos, que elogiam a Redação, e publicam as "reportagens" nos cadernos de economia, com menção na Primeira Página. Se não há isenção suficiente para abordar o próprio negócio, como se faz com os outros setores da economia, a Redação deveria ficar fora desse processo. Os informes sobre quem vende mais deveriam ser feitos por publicitários. Em anúncios, não é pecado seguir aquela máxima de um ex-ministro da Fazenda: "o que é bom a gente fatura; o que é ruim a gente esconde".
O ASSUNTO DA SEMANA
A REVOLTA DOS CALVOS |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |