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SUZANA SINGER - ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman

Folia na Folha

Em vez de investir em reportagem, jornal dá destaque a colunista para criar polêmica fácil no Carnaval

A Folha cobre o Carnaval com o kit mínimo necessário: descrição burocrática dos desfiles, registro dos incidentes, o que rolou nos camarotes, fotos de mulheres e uma coluna de notas que, num ano, se chama "confetes" e, no outro, "serpentinas".

Para atravessar o samba, o jornal colocou na capa do sábado de Carnaval um extrato da coluna de Barbara Gancia: "Desfile no Rio é torrada com caviar, e o de São Paulo é com estrume". A chamada estava no alto da Primeira Página.

A grosseria deu resultado: 43 leitores escreveram ofendidos. Os mais elegantes tacharam a coluna de "preconceituosa, insensível, ignóbil, chula, rasteira".

"Assinante da Folha há anos, não poderia deixar de manifestar meu repúdio às declarações desrespeitosas à nossa cidade. Além de tudo, a metáfora do sanduíche é pobre e pouco criativa", escreveu o técnico de som Miguel Sagatio, 67, que lê as colunas da Barbara (e gosta).

Em seu texto, curto e editado sem destaque no "Cotidiano", a colunista conta que já desfilou na Sapucaí e no Sambódromo de São Paulo. No primeiro, sentia o embalo da arquibancada; no segundo, parecia que o público estava dormindo. Concluiu que São Paulo não engrena com Carnaval, mas fez a ressalva de que isso pode ser um elogio.

Barbara provocou, não defendeu uma tese, como Janio de Freitas, que no domingo passado discorreu seriamente sobre por que o desfile das escolas de samba não pode mais ser considerado Carnaval carioca.

Na página interna, o canapé escatológico da Barbara não foi para o título nem para a frase em destaque. Por que então a provocação na capa do jornal?

"O texto era desagradável, egocêntrico, no estilo do Rafinha Bastos, mas o pior não foi a colunista ter escrito, foi o jornal ter publicado e com chamada na Primeira Página", critica o leitor Mário Eduardo Senatore Soares, 47, professor da Escola Politécnica da USP.

A Secretaria de Redação não explica por que deu tamanho destaque ao texto, mas defende a colunista. "A Folha tem -e se orgulha de ter- 110 colunistas, que representam ampla gama de opiniões, posições políticas, estilos de escrever. Barbara Gancia se enquadra na categoria dos que dão a sua opinião de maneira direta e crua", afirma.

Sem investimento em reportagem, mas sem coragem de ignorar o Carnaval, o jornal apelou para a velha rixa Rio X São Paulo e tentou atiçá-la da forma mais preguiçosa e gratuita possível. Se é para fazer assim, melhor deixar a cobertura da festa para a televisão. Talvez José Simão tenha razão: "Carnaval é como sexo: só é bom ao vivo".

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