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SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman

Aperto econômico

Com a piora da situação na Europa e no Brasil, o jornal precisa aumentar o espaço para a macroeconomia

No dia em que o dólar encostou no patamar de R$ 2, o que não acontecia desde 2009, e a Bolsa deu um mergulho que praticamente zerou os ganhos do ano, o caderno de economia da Folha dedicou sua capa a Guarulhos e outras cinco cidades do interior de São Paulo, onde sacolinhas de plástico continuarão a ser distribuídas nos supermercados.

Na mesma edição da Folha, de terça-feira passada, a Grécia vivia uma encruzilhada política que poderia levá-la a sair da zona do euro, mas o noticiário internacional abria com mais um atentado na Síria -um outro, bem mais letal, ocorrido quatro dias antes, tinha sido editado mais discretamente.

A cobertura da crise europeia e os rebotes no Brasil estavam espremidos em uma página de "Poder", a última, já que a edição privilegiou temas importantes da política nacional (Comissão da Verdade e a CPI do Cachoeira).

Não foi um caso isolado, de um dia infeliz, que todo jornal enfrenta. O resultado ruim da terça-feira passada é consequência do rearranjo de assuntos que a Folha implantou há pouco mais de um ano.

Desde que a macroeconomia foi esquartejada e dividida entre "Poder", "Mundo" e "Mercado", nenhum editor é "o" responsável pelo assunto. Quem conhece uma grande Redação sabe que cão sem dono tende ao abandono e à inanição.

"A parte de economia da Folha sofreu mudança grande, o foco agora é outro, mais business. A chamada 'economia mesmo' ficou com pouco espaço", nota o analista financeiro Luis Miguel Santacreu, 46.

Comentando a cobertura do impasse político na Grécia, a analista de sistemas Simone Cristina Molnar, 43, sentiu falta de algum diferencial. "Sei que a crise é única, que é o mesmo fato, mas poderia ter um pulo do gato no jornal, um texto diferente, uma outra visão", observa.

Tudo indica que a crise internacional vá ser longa e que o Brasil não vá passar incólume pelo vendaval. O dólar subiu, a Bolsa despencou, os juros diminuíram, as previsões sobre o crescimento deste ano são cada vez mais modestas. O governo Dilma parece disposto a mexer de fato na política econômica, vide a recente queda de braço com os bancos. Ao mesmo tempo, o noticiário político, que parecia morno no início do ano, está animadíssimo.

Não dá para confinar todo esse material no Primeiro Caderno e deixar "Mercado" apenas com a cobertura de negócios e de finanças pessoais. Está mais do que na hora de o jornal repensar a sua divisão de assuntos para reverter o declínio de sua cobertura de economia.

O homem que aprovava

A Folha deu um "furo" importante com a denúncia sobre o enriquecimento mal explicado do homem que era responsável por aprovar a construção de imóveis em São Paulo. O jornal mostrou que Hussain Aref Saab acumulou 106 imóveis enquanto esteve à frente do setor responsável pela liberação de alvarás na Prefeitura, o Aprov.

Falta, agora, abrir o foco das reportagens. Se houve corrupção, presume-se que exista um esquema no processo de liberação de obras que facilite que isso ocorra.

"Ninguém que trabalha com construção se espantou com a notícia. É notório que a corrupção rola solta. Mas a questão é maior, porque a nossa cidade está sendo construída com base nesse processo", escreveu um arquiteto, que não quer se identificar.

O bom furo sobre o ex-servidor parece ser apenas a ponta de um novelo que a reportagem da Folha precisa desenrolar.

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Falando na cidade, o caderno especial sobre casa própria, de quinta-feira, gastou uma página numa sequência de lugares-comuns sobre bairros. A intenção era fazer graça com frases do tipo: "Na Santa Cecília, não dá para se incomodar com os travestis da esquina, pois eles protegem a área. Higienópolis não fica longe, mas famílias quatrocentonas recusam o metrô, que dirá travestis".

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