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SUZANA SINGER - ombudsman@uol.com.br
@folha_ombudsman

Fôlego final

A Folha, que deu à luz o mensalão, está fazendo uma cobertura burocrática do julgamento no STF

Depois de quatro longas semanas de debate jurídico, chegou-se, finalmente, a uma notícia: a condenação de um político importante no julgamento do mensalão. A maioria dos ministros considerou João Paulo Cunha culpado por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro.

Acompanhar os 28 dias de discussões no Supremo Tribunal Federal não foi fácil. A Folha teve o mérito de manter a torcida pró-condenação longe do noticiário, mas vem cobrindo sem brilho o julgamento.

A tarefa primeira, de resumir e traduzir o que dizem os ministros, é cumprida burocraticamente. Muitas vezes, entendem-se melhor os votos pela coluna "Questões de Ordem", de Marcelo Coelho, do que pela reportagem principal.

É verdade que muitos ministros não primam pela clareza, as falas são empoladas e cheias de citações obscuras para os leigos, mas isso era esperado e o jornal precisaria ter se preparado melhor.

Um teste simples é ler todos os textos sobre João Paulo Cunha de sexta-feira passada, por exemplo, e tentar responder depois: quais os casos em que ele está implicado? Aposto que muitos jornalistas na Redação não acertariam.

A dificuldade aumenta quando está em jogo alguma questão teórica, como o próprio conceito de prova: vale apenas o que está nos autos? Para caracterizar corrupção passiva, é necessário que o servidor tenha agido para beneficiar alguém ("ato de ofício")?

Saindo da reprodução do que é dito nas sessões, pouco foi feito também. A reportagem gasta energia inutilmente tentando adivinhar o que vai acontecer. Em uma mistura de bastidores políticos com exercício de vidência, tentou-se adiantar o que relator e revisor iriam dizer na réplica e na tréplica, que acabou praticamente não acontecendo (Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski falaram durante poucos minutos na segunda-feira).

No domingo passado, "Poder" já tentava prever como Barbosa vai argumentar no momento de julgar o ex-ministro da Casa Civil ("Relator deverá explorar favores de Valério a ex de José Dirceu"), o que vai demorar semanas para acontecer.

Em vez de antecipação, o jornal deveria focar o que está em pauta, explicar melhor as principais acusações, deixar claro o que há de provas e, quando possível, buscar dados novos.

Se não está fácil acompanhar agora, quando estão sendo julgados os políticos, imagine como será nos próximos dias, quando vão entrar os crimes financeiros... Como dizem os togados, "com a devida vênia, causa espécie" ver a Folha, jornal no qual o mensalão surgiu, patinar na cobertura do último capítulo.

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