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SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman

O fenômeno Russomanno

Candidato, que foi massacrado em sabatina, ainda não foi bem entendido pelo jornal

As sabatinas da Folha/UOL com Fernando Haddad e José Serra, na quinta e na sexta-feira passadas, foram passeios de barco em águas tranquilas se comparadas ao tiroteio enfrentado por Celso Russomanno no encontro de 22 de agosto.

Desviando-se de uma ou outra marola, o petista e o tucano puderam expor algumas ideias e repetir respostas ensaiadas às acusações mais recentes. Nos momentos incômodos, Haddad precisou explicar como um "socialista" foi parar em um abraço malufista e Serra foi chamado de "conservador".

Já a Celso Russomanno foi perguntado: "Por que o sr. merece ser prefeito, uma vez que foi acusado de crime eleitoral e de peculato, foi chamado de jabazeiro quando fazia o 'Circuito Night and Day' e trabalhou como assessor de imprensa do hotel Della Volpe, onde o governador do Acre foi assassinado?".

Um pouco antes, da bancada de jornalistas, ouviu-se: "Não queremos ser governados por um aventureiro, um populista", com um tipo de política "que as pessoas menos escolarizadas idolatram". E ainda: "O sr. está sendo reducionista, propondo algo que funciona no 'Aqui Agora', mas não em São Paulo".

Não foi só um momento de descontrole de um jornalismo que se propõe isento. A Folha subestimou a candidatura Russomanno. Acreditou no que diziam os analistas: com o início do horário eleitoral gratuito, o representante do PRB vai se desidratar, é "voo de galinha". O noticiário dedicava pouco espaço ao ex-deputado, ainda que ele aparecesse bem nas pesquisas.

Quando a "galinha" continuou voando, apesar de ter 28% do tempo de TV dos dois principais adversários, acendeu o alerta na Redação. Em pouco tempo, o leitor foi informado de que Russomanno fez lobby por uma empresa que lesou 110 mil clientes, já foi condenado com base no Código de Defesa do Consumidor, foi acusado de usar uma assessora parlamentar em sua ONG e aproveita, na campanha eleitoral, a estrutura da Igreja Universal.

Exagero? Não, já que é função do jornalismo desenterrar cadáveres e trazer à tona informações que os candidatos gostariam de ver esquecidas. Mas não é suficiente.

Se os jornalistas tivessem passado algumas horas assistindo à "Patrulha do Consumidor", o programa de Russomanno na Record, não teriam descartado tão rapidamente a sua presença no segundo turno. Como ele mesmo diz, a população não o vê como político, mas como "homem de televisão". Nesse caso, um artista que defende os consumidores da classe C, frequentemente maltratados em lojas e em empresas.

O líder nas pesquisas não é apenas um azarão que surfa na rejeição à gestão Kassab, no cansaço em relação a Serra e no desconhecimento de Haddad.

Russomanno precisa ser explicado por si mesmo, o que só é possível se for deixado de lado o preconceito contra o ex-repórter do sensacionalista "Aqui Agora", ex-apresentador de um programa brega movido a merchandising e atual representante de parcela considerável dos evangélicos. Para desconstruir algo, é necessário antes entendê-lo.

UM CORPO NA CAPA

France Presse
O embaixador americano J. Cristopher Stevens, morto em ataque a consulado na Líbia
O embaixador americano J. Cristopher Stevens, morto em ataque a consulado na Líbia

A fotografia do embaixador norte-americano morto na Líbia provocou discussões sobre os limites do jornalismo. Os críticos consideraram sensacionalista a exposição tão crua do cadáver. O Departamento de Estado pediu que a foto não fosse divulgada, inclusive no Brasil.

O "New York Times", que estava com a foto do corpo no site na quarta-feira à tarde, não atendeu ao pedido do governo, argumentando que a imagem era parte relevante do noticiário. "Essas decisões nunca são fáceis, e essa foi especialmente dura", disseram em nota.

A ombudsman Margaret Sullivan considerou aceitável a foto na internet, mas disse que não gostaria de vê-la estampada na capa do jornal, onde "a proeminência e permanência lhe dariam um peso diferente".

No dia seguinte, a imagem não saiu no papel. Segundo o "NYT", porque não era mais necessária, já que a fase da notícia instantânea da morte do diplomata tinha passado. A polêmica mostra que os limites são mais frouxos na internet.

Entre os grandes jornais do mundo, a Folha foi um dos poucos que deram em tamanho grande a foto na capa. Não há dúvida de que a imagem era noticiosa, mas o destaque foi desnecessário. Acertou no remédio, mas errou a dose.

Errei

Uma semana depois de ter cobrado a Redação pelos erros de português, cometi um no título da coluna. No domingo passado, saiu "Diga-me onde estudas...", em vez de "Diga-me onde estuda..." ou "Dize-me onde estudas". Foi publicada uma correção, mas aproveito para pedir desculpas aos leitores.

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