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Ameaças amplificadas

A imprensa está servindo de alto-falante para os recados de Marcos Valério

A imprensa vem reproduzindo, com pouco cuidado e acriticamente, os recados ameaçadores de Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão.

Começou em setembro, quando a "Veja" publicou que o empresário mineiro disse a amigos e familiares que o ex-presidente Lula "comandava tudo". E advertiu: "Mas agora vai todo mundo para o ralo". As declarações foram reproduzidas nos jornais, inclusive na Folha, antes mesmo de a direção da revista dizer que estavam gravadas.

Há dez dias, foi a vez de o "Estado de S. Paulo" noticiar que Valério, em depoimento ao Ministério Público Federal, "citou Lula, Palocci e Celso Daniel", prefeito de Santo André assassinado em 2002. Mesmo sem saber bem o que ele disse, o jornal deu o assunto na manchete.

O depoimento é mantido em sigilo. O "Estado" explicou ter obtido as informações graças a investigadores. Revelou, em seguida, que Valério contou ter dado dinheiro para que o PT calasse pessoas que ameaçavam fazer revelações sobre o caso de Santo André.

No domingo passado, a "Veja", sem citar a fonte, acrescentou que os chantageados eram o ex-presidente Lula e o ministro Gilberto Carvalho. Só que na versão da revista, Valério se recusou a ajudar: "Eu falei assim: nisso aí eu não me meto". Ele seria uma testemunha inocente.

Há quatro dias, um novo recado foi enviado, desta vez para os tucanos. Marcelo Leonardo, advogado de Valério, lembrou que seu cliente também fez revelações importantes sobre o "mensalão mineiro", que não teriam sido devidamente investigadas em 2007.

No contexto do julgamento do mensalão, seria preciso muito sangue-frio para ignorar os petardos do "homem-bomba". Mais ainda para esperar por provas.

Mas dá para fazer uma cobertura muito mais crítica, explicitando os interesses de Marcos Valério e investigando se as suas denúncias fazem algum sentido.

É fundamental também deixar claro para o leitor que o empresário mineiro não falou com a imprensa -a "Veja" não diz que o entrevistou, o "Estado" não publicou transcrições do depoimento e a Folha reproduziu os concorrentes.

É muito diferente da entrevista que Roberto Jefferson deu à jornalista Renata Lo Prete, na Folha em 2005, e que deu origem ao escândalo do mensalão. O então deputado federal, mesmo tendo muito a perder, descreveu o esquema de corrupção de parlamentares. Jefferson foi gravado e fotografado.

O que está sendo divulgado agora é o que Marcos Valério teria dito a terceiros. Numa espécie de "telefone sem fio", a imprensa amplifica as ameaças de um homem já condenado a 40 anos de prisão.

É MELHOR QUENTINHO?

A edição de quarta-feira deixou muita gente frustrada. Mesmo na Grande São Paulo, 60% dos assinantes não receberam o resultado da eleição nos EUA.

Só deu para cravar a vitória de Barack Obama às 2h20, quando a Folha já estava rodando. Em situações excepcionais, o dilema é "entregar jornal velho na hora certa" ou "chegar tarde, mas quente".

Não é decisão fácil, mas dá para aplacar a insatisfação do leitor sendo transparente. O jornal deveria ter explicado, na capa, por que estava circulando sem a notícia mais importante do dia.

Além disso, seria melhor reservar manchete de outro assunto para as edições frias. É melhor falar de violência, por exemplo, do que tangenciar a eleição presidencial com títulos inúteis como "Estragos de ciclone afetam votação" ou "Disputa mostra EUA divididos".


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