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Opinião

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Ruy Castro

Rua em perigo

RIO DE JANEIRO - Em 1928, um episódio decisivo para a cultura brasileira aconteceu na Guitarra de Prata, uma loja de partituras e instrumentos musicais na rua da Carioca, no centro do Rio. Um estudante de direito, Mario Reis, 20 anos, pediu para ser apresentado a um frequentador: o compositor J. B. da Silva -Sinhô-, autor de "Pé de Anjo" e "Ora Vejam Só" e um dos grandes nomes da cena carioca.

Mario queria aulas de violão; Sinhô era pianista, e apenas arranhava o pinho -o bastante para ensinar a um novato que, pelo corte de seu terno, parecia oriundo das altas extrações. As aulas começaram, e deu-se a revelação. Sinhô se surpreendeu com Mario como cantor: "natural", voz pequena e sem vibrato, mas com uma bossa que não se via nos cantores da época, candidatos a Caruso. Meses depois, Sinhô levou Mario à Odeon para gravar dois de seus sambas. Ali começou a modernidade.

A Guitarra de Prata, fundada em 1887, vem do fim do Segundo Reinado. Está com 126 anos. Seu vizinho, também multissecular e do mesmo ano, é o famoso Bar Luiz. Que, por sua vez, tem ao lado a Casa Vesúvio, de 1946, com seu poético comércio de guarda-chuvas. Junto a eles, formando um quarteirão histórico (e tombado) no lado ímpar da rua da Carioca, há outras 15 lojas tradicionais. Todas estão ameaçadas de fechar.

Em 2012, a Venerável Ordem Terceira da Penitência vendeu em bloco os 18 casarões, de sua propriedade, ao Opportunity Fundo de Investimento Imobiliário. Este reviu os contratos e propôs um reajuste dos aluguéis para o dobro dos valores atuais -impraticável para os velhos locatários. Os quais se queixam de não lhes ter sido dada a oportunidade de cada um comprar o seu.

Mais grave: os contratos com a Ordem iam até 2020. É mais um caso em que não apenas o futuro é incerto, mas o passado também ficou inconfiável.


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