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Opinião

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Maria Gabriela Menezes de Oliveira

TENDÊNCIAS/DEBATES

o assunto é autismo

Construir uma sociedade inclusiva

Apenas quando a convivência com o deficiente se tornar um hábito corriqueiro poderá se dizer que a sociedade é, de fato, inclusiva

Hoje, Dia Mundial de Conscientização do Autismo, várias manifestações estão programadas com o intuito de tirar o véu da invisibilidade que pesa sobre os ombros de milhões de famílias no mundo.

Um passo importante foi dado com a sanção da Lei Berenice Piana, segundo a qual portadores do transtorno do espectro autista devem ser considerados deficientes para fins legais.

A lei também propõe a realização de um censo para saber quantos autistas, afinal, há no Brasil. Existe um parâmetro: estudo divulgado em meados de março de 2013 pelo "National Health Statistics Report" sugere a impressionante prevalência, nos Estados Unidos, de uma criança afetada a cada 50.

Esses números indicam a necessidade de uma séria avaliação dos profissionais da área da saúde e da comunidade em geral. Mas como o diagnóstico não respeita classe social, etnia nem geografia, é razoável pensar que também no Brasil possamos estar diante de uma questão de saúde pública infelizmente ainda não detectada.

Além do espectro autista, o número de deficientes em geral no mundo é muito alto. Por isso, em setembro, ocorre a Reunião de Altas Autoridades das Nações Unidas sobre Deficiência e Desenvolvimento, cujo tema principal é a inclusão de deficientes. A justificativa é simples: estima-se que pelo menos um bilhão de pessoas sejam deficientes e excluídas da possibilidade de acesso em igualdade de condições à educação, trabalho e assistências médica, social e legal. A situação causa um empobrecimento desproporcionalmente maior de deficientes em relação a seus concidadãos.

Para preparar essa reunião, cujas deliberações e conclusões deverão ter repercussão mundial, houve há alguns dias uma consulta pública sobre quais ações devem ser tomadas para para garantir a inclusão social de pessoas com deficiência.

Para mim, mãe de um garoto no espectro autista, é fundamental preparar a sociedade para os receber. Para isso, é preciso fornecer o conhecimento da existência e da perspectiva do outro. Se, como dizem, os autistas têm dificuldades nesse quesito, o que tornaria a integração deles mais difícil, o que pensar de uma sociedade cujos cidadãos, em princípio, são, de fato, capazes de se por no lugar do outro, desde que semelhante, mas excluem o diferente?

Esse ponto desmascara a dificuldade de se colocar em um lugar desconhecido. O exercício da cidadania também se manifesta no esforço para entender, tolerar e não discriminar. Ao mesmo tempo, instituir políticas públicas para, educando os cidadãos, dar-lhes novos referenciais para o entendimento e a inclusão completam esse esforço.

As perspectivas das pessoas com transtorno do espectro autista e as dos outros são muito diferentes, como se estivessem em lados opostos de uma porta fechada. Por isso, insisto muito na questão da inclusão nas escolas regulares desde pequenos e mediada por profissionais habilitados para promover a saudável interação entre todas as crianças.

Quando saber conviver com o deficiente se transformar em um hábito simples e comum, a sociedade será de fato inclusiva.

Alguns autistas têm a sorte de já viver em um microambiente assim. É pouco. O essencial é realizar campanhas públicas para esclarecer e educar o conjunto da população desde já. Parafraseando o slogan da reunião das Nações Unidas sobre deficiência e desenvolvimento: quebrem-se as barreiras e abram-se as portas do isolamento social por meio do conhecimento.


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