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Raul Juste Lores

Negócio das alturas

SÃO PAULO - Gisela e Thiago se casaram no 27º andar de uma torre dos anos 50, em frente à Câmara Municipal. Convidados estrangeiros com muita milhagem nas costas não pararam de fotografar a fisionomia da metrópole, avistando o Anhangabaú, as torres de TV na Paulista, o horizonte de concreto muito mais colorido do que visto do chão.

Na festa, muitos empresários e políticos paulistanos se sentiram turistas em sua própria cidade, contemplando as paredes externas azuis e roxas do salão envidraçado do edifício Planalto. Ver São Paulo das alturas é um negócio timidamente explorado. Arranha-céus de Nova York, Hong Kong, Tóquio e Xangai lucram fortunas com mirantes, restaurantes e bares nos seus cocurutos.

Aqui, é luxo para poucos. No Réveillon, a partir das 23h, dezenas de moradores do Copan fazem fila nos elevadores. É uma das poucas ocasiões em que o terraço do 33º andar fica aberto. Moradores levam garrafas de champanhe e acompanham os foguetórios no horizonte. No vizinho edifício Itália, o bar e restaurante são um ponto privilegiado para quem sabe flanar pela cidade -ainda que decoração e cardápio fiquem devendo uma imagem mais contemporânea. O Skye, no hotel Unique, é um caso solitário, mas concorrido. A quantidade de imóveis ociosos nas alturas revela chances desperdiçadas. Conhecem o abandonado salão de festas do edifício Viadutos, que avista a avenida São Luiz? Ou o do Anchieta, na Paulista? O casarão no topo do Martinelli? Um bom isolamento acústico e uma reforma ressuscitariam mirantes à espera de mais autoestima paulistana.

Empresários da noite trazem franquias de baladas de Miami, como se o glamour sobrevivesse ao xerox. Mas há algo de novo no front: um antigo cinema da comunidade japonesa na Liberdade virou a casa de shows Cine Joia. Até a Copa, receberemos milhares de possíveis investidores estrangeiros. Ficarão restritos ao chão de sempre?

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