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Ventos da mudança

O retorno de dezenas de milhares de egípcios à praça Tahrir nos últimos dias, para cobrar a saída imediata da junta militar que comanda o país desde a queda do ditador Hosni Mubarak, evidencia dois aspectos importantes da chamada Primavera Árabe.

De um lado, indica que as populações desses países, em especial os jovens, não querem apenas livrar-se de déspotas, mas caminhar na direção de um regime democrático, capaz de propiciar liberdades, direitos, oportunidades e talvez um modo de vida mais próximo do ocidental.

De outro, mostra o quanto essa transição pode ser acidentada e incerta em países submetidos a décadas de autoritarismo. Os percalços, todavia, não devem ser entendidos como um sinal da impossibilidade de implantação da democracia em nações árabes ou de tradição islâmica -como demonstra o caso da Turquia, que concilia regime democrático e islamismo.

Dos países varridos pela revolta, a Tunísia, que derrubou Zine el Abidine Ben Ali após 23 anos de ditadura, é, até aqui, o melhor exemplo a ser observado. As eleições para a formação de uma Constituinte transcorreram sem maiores dificuldades, as promessas de respeito às minorias têm sido cumpridas e o radicalismo religioso mantém-se sob controle.

Na Líbia, depois da queda de Muammar Gaddafi, foi nomeado um gabinete de tecnocratas, mas o Conselho Nacional de Transição anunciou que será implantada a sharia, a lei islâmica, como base da nova Constituição.

A situação parece ainda pior no Iêmen. Nesta semana, o ditador Ali Abdullah Saleh viu-se forçado a renunciar, depois de 33 anos. O posto, entretanto, foi ocupado pelo vice -e nada indica que os desdobramentos serão auspiciosos.

No Egito, novamente convulsionado, há sinais encorajadores, mas a transição tem se mostrado lenta. As eleições parlamentares, por exemplo, que começam na segunda-feira, se estenderão até março de 2012, e o pleito para a escolha de um novo presidente deverá ocorrer só em meados do ano.

Ao mesmo tempo, aumentam as desconfianças sobre o papel do Exército -se irá ou não transmitir o poder a um governo civil.

Pelo peso do Egito, país mais importante da região, um desenlace que conduzisse à democracia representaria um grande avanço da Primavera no clima político do mundo árabe.

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