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Hélio Schwartsman

A revolução das árvores

SÃO PAULO - Os protestos na praça Taksim, em Istambul, desfilam um festival de paradoxos. Apesar das mortes e da violenta repressão policial, eles são a prova de que a Turquia está se tornando uma democracia de verdade. Ainda mais intrigante, esse processo ocorre sob a administração de um partido islâmico e tem como força propulsora não um desastre econômico, mas uma era de prosperidade.

As manifestações começaram como quem não quer nada. A ideia era protestar contra uma retirada de árvores para construir um shopping center e um conjunto residencial, num projeto urbanístico que tem o apoio do governo. A polícia, entretanto, interveio com truculência contra os jovens que acampavam na praça e isso galvanizou forças que, devido aos sucessos econômicos da gestão do premiê Recep Tayyip Erdogan, estavam dormentes havia muito.

Em questão de horas, diferentes hordas insatisfeitas com o governo tomaram a praça. Elas incluem os ecologistas, é claro, mas também feministas, curdos, ateus, minorias religiosas como alevitas e armênios, gays, a esquerda secular. É uma resposta não só à brutalidade policial mas também ao crescente fortalecimento do partido governista AK.

Com efeito, embora ninguém conteste a legitimidade da administração, que foi conquistada nas urnas em eleições limpas, o AK está implementando uma agenda que está longe de consensual. Ela inclui, por exemplo, restrições à venda de bebidas alcoólicas e ao aborto --medidas de caráter religioso.

O lado bom da história é que, depois de uma longa ditadura laica imposta pelos militares e uma década de democracia imperfeita sob os auspícios do AK, começa a articular-se na Turquia uma sociedade civil secular que já não se manifesta só por meio de tentativas de golpe. Verdadeira alma da democracia, a mobilização é o melhor antídoto contra as ambições hegemônicas dos religiosos.


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