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Opinião

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Apreensão na Turquia

A recente onda de protestos na Turquia expõe a tensão sempre subjacente entre setores seculares do país e o governo do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de crescente orientação islâmica, religião de 99,8% da população.

Instalado no poder por eleições livres em 2002, o AKP era até há pouco tido como um exemplo, no Oriente Médio, da conciliação entre democracia e islã. Apesar da boa imagem no exterior, o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan sempre despertou desconfiança nos setores mais seculares da Turquia. Enfrenta, agora, o maior teste de suas intenções.

A República da Turquia foi fundada na década de 1920, após a dissolução do Império Otomano, sob a liderança do comandante do Exército, Mustafa Kemal Atatürk. O primeiro presidente da nação, com apoio militar, unificou territórios otomanos de língua turca e impôs a secularização do novo país.

Na última década, com o declínio da tutela militar sobre a vida política, o governo do AKP aumentou paulatinamente a influência da religião na vida pública. Ao mesmo tempo, procurou abrir a Turquia para o Ocidente. Nesse período, o país --integrante da Otan-- passou a negociar sua adesão integral à União Europeia e registra bom desempenho na economia (crescimento de 2,6% no PIB de 2012 e estimados 3,4% neste ano).

Os protestos começaram com uma manifestação contra obras em área verde adjacente à famosa praça Taksim, em Istambul, principal cidade do país. A violenta reação policial, com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água, engrossou a torrente de insatisfação.

Os manifestantes passaram então a denunciar um crescente autoritarismo de Erdogan e a atribuir-lhe uma "agenda oculta" de completa islamização do país. As recentes restrições ao consumo de álcool em público e à realização de abortos são citadas como exemplos dessa alegada tendência.

Os protestos resultaram em três mortes e mais de mil feridos. Em suas manifestações iniciais, o primeiro-ministro atribuiu os distúrbios a extremistas da oposição. Ontem, seu governo moderou o tom com um pedido de desculpas do vice-premiê, Bülent Arinç.

Com votações cada vez mais expressivas nas três eleições que venceu, Erdogan almeja reformar a Constituição para dar mais poderes à Presidência e, em seguida, candidatar-se ao cargo. Essa ambição continuísta contrasta com a reputação adquirida no estrangeiro pelo político que apoiou a Primavera Árabe e o levante contra o ditador sírio Bashar al-Assad.


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