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Próxima vítima

Decisão da Liga Árabe e documento da ONU relatando atrocidades devem intensificar pressões pela deposição de ditador sírio

A decisão quase unânime da Liga Árabe de aplicar sanções ao regime do ditador Bashar Assad é menos importante pelos efeitos imediatos que pode ter sobre a economia do país do que pelo seu significado diplomático.

A economia síria já se encontrava em frangalhos nos últimos meses, abalada por restrições impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Nesse quadro, as novas medidas terão efeito limitado -até porque o Iraque, principal parceiro econômico da região, se absteve, indicando que poderá não seguir o boicote.

A decisão favorável a novas punições econômicas, entretanto, é um claro sinal de que os países árabes decidiram lavar as mãos em relação ao regime da Síria. O gesto abre caminho para uma ação mais efetiva das potências ocidentais contra a sanguinária ditadura de Assad.

É a primeira vez desde sua fundação, em 1945, que a Liga Árabe impõe sanções a um de seus membros. O clube de ditadores, que nunca se notabilizou por agir contra seus semelhantes, anunciou, desta vez, medidas mais severas até do que as aplicadas contra o Egito, em 1979, quando o país assinou um tratado de paz com Israel -e passou mais de uma década suspenso da entidade.

Não há sinais de que haverá de pronto uma intervenção armada na Síria, mas não é demais lembrar que o aval da Liga Árabe foi a senha para os bombardeios em território líbio, encetados pela Otan (a aliança militar ocidental), que culminaram com a derrubada de Muammar Gaddafi.

À condenação dos governos da região vem se somar um impactante relatório das Nações Unidas, divulgado ontem, sobre as ações repressivas patrocinadas pela ditadura de Assad.

Embora a equipe da ONU tenha sido proibida de entrar no país, os relatos de mais de 200 vítimas, desertores e opositores permitiram que se desenhasse um painel das atrocidades cometidas no país. Além de uma estimativa de 250 crianças assassinadas, documentou-se o recurso sistemático a "execuções sumárias, prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados e tortura, incluindo violência sexual", segundo o texto do documento, cuja feitura foi coordenada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro.

A combinação do relatório com as sanções determinadas pelos países árabes deverá impulsionar uma nova escalada diplomática contra a Síria e reforçar as vozes que pregam a intervenção externa.

No comando do país desde 2000, quando deu continuidade a uma ditadura de quase três décadas liderada por seu pai, Assad parece marcado para ser a próxima vítima da Primavera Árabe, movimento popular que já depôs os tiranos de Egito, Líbia, Tunísia e Iêmen.

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