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Edson Luiz Sampel

TENDÊNCIAS/DEBATES

Indulgência na rede social respeita preceitos religiosos?

não

Um meio inidôneo

O vocábulo indulgência vem do latim, "indulgere", que significa perdoar benignamente. Quando alguém comete um pecado grave, mortal (uma ação ou omissão contrária aos dez mandamentos), dois são os meios de restabelecimento da harmonia com Deus: a confissão sacramental, instituída por Jesus (Jo 20,23), ou então um ato de contrição perfeita por parte do pecador, com o propósito de se confessar a um padre tão logo quanto possível.

Jesus, por intermédio do sacerdote-confessor, absolve o penitente arrependido. Desta feita, a culpa, elemento subjetivo, é totalmente remitida pelo sacramento. No entanto, a perpetração de um pecado mortal deixa sequelas, isto é, produz, de certo modo, uma perturbação da ordem universal.

Assim, por um imperativo de justiça, é mister uma reparação que restaure os bens vulnerados pelo pecado. Conforme o Concílio de Trento, as penitências que nos impomos voluntariamente, bem como os males que nos sobrevêm e são aceitos com espírito cristão constituem meios de quitarmos esse débito com Deus. Sem embargo, se as boas obras forem insuficientes, Deus, na sua infinita bondade, faculta-nos uma purificação depois da morte, no estado de purgatório (2 Mc 12,42; 43-46).

Eis, com efeito, a tradução do cânon 992 do código canônico: "Indulgência é a remissão diante de Deus da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica com autoridade, o tesouro da satisfação de Cristo e dos santos".

Existem, portanto, certos atos indicados pela autoridade eclesiástica chamados de "obras indulgenciadas", que, se praticados nas condições exigidas, abrandam a purificação póstuma.

No decreto da cúria romana, o santo padre estipula que as liturgias e os ritos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) correspondem a obras indulgenciadas e, portanto, sua prática pelos jovens no Rio de Janeiro proporciona-lhes a obtenção de indulgências. A participação pode se dar "per nova communicationum socialium instrumenta", ou seja, pelos novos meios de comunicação social.

O Twitter, no entanto, me parece um meio inidôneo para se lucrar indulgências. A mencionada mídia, conhecida como o SMS da internet, expede no máximo 140 caracteres por vez, o que inviabilizaria, por exemplo, a transmissão de todas as partes de uma missa.

Todavia, a principal objeção ao Twitter repousa no fato de que o usuário recebe concomitantemente diversas mensagens. Assim, o tuiteiro sintonizado no sermão do papa pode ser distraído por um recado de um amigo ou por uma postagem inadequada para a concentração piedosa que o momento requer.

Essa engenhoca, tão aprazível aos jovens, é decerto utilíssima na evangelização, porquanto o papa envia ou tuíta a boa notícia do evangelho várias vezes por dia. Nada obstante, levando-se em conta as características próprias da recepção das indulgências, o Twitter se afigura um recurso perigoso.

A propósito, dom Cláudio Celli, presidente do Pontifício Conselho de Comunicação Social, advertiu que indulgência não pode ser recebida com a mesma facilidade com que se obtém um café de máquina.


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