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Eleição no Mali
Ocupado por forças de paz da ONU e por militares franceses, o Mali promove neste domingo eleições presidenciais, na expectativa de que o retorno à rotina democrática e à ordem constitucional ponha termo à escalada de conflitos verificada nos últimos dois anos.
O sucesso da disputa eleitoral, porém, está sob risco. Na semana passada, grupos terroristas sequestraram pessoas que trabalhavam na organização do pleito, o que aumentou temores quanto à segurança do processo. Além disso, com 500 mil pessoas desabrigadas no país, não é pequeno o desafio logístico para computar esses votos.
O país africano vive situação adversa desde 2011, quando se intensificaram rebeliões de tribos nômades. Em março de 2012, militares depuseram o regime democraticamente eleito e abriram espaço para um governo civil de transição.
Grupos armados de orientação islâmica, filiados à rede terrorista Al Qaeda, se beneficiaram do clima de instabilidade e passaram a controlar regiões ao norte do Mali.
Com um Exército nacional fragilizado, o país sofreu no início deste ano uma intervenção militar comandada pela França. A operação conteve os avanços rebeldes rumo à capital e retomou a ordem nas principais cidades, mas não impediu que os grupos continuassem a atuar no território malinês.
A estabilidade no oeste da África é questão relevante para a Europa, que não deseja ver um país geograficamente próximo sofrer rotineiros ataques de radicais islâmicos. O Mali, em particular, é grande produtor de ouro e vizinho de países com importância estratégica. É o caso do Níger, com reservas de urânio, e da Argélia, que fornece um quarto do gás natural importado pelo mercado europeu.
Será tarefa de um dos 28 candidatos à Presidência buscar a efetiva pacificação local e enfrentar os desafios mais permanentes do país. O Mali é o 175º colocado dentre as 187 nações avaliadas pelo Índice de Desenvolvimento Humano, da ONU, e 69% de sua população vive abaixo da linha da pobreza.
Diversos analistas sugeriram adiar a disputa, por temores de que o prazo exíguo comprometesse sua organização e lisura, mas as partes envolvidas tiveram boas razões para insistir na data original.
Do ponto de vista da França, um governo eleito de forma legítima acelera o processo de retirada de suas tropas. Para a força de paz da ONU, haverá um interlocutor definitivo e interessado em trabalhar a seu lado. E, para o Mali, o retorno à ordem constitucional permite a volta do importante auxílio financeiro dos EUA.