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Opinião

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Antonio Delfim Netto

Novo câmbio

O mercado de câmbio no Brasil é um dos mais livres, líquidos, seguros, sofisticados e bem organizados de quantos existem, e o real é uma das moedas mais transacionadas no mundo, graças ao "carry trade" de que foi objeto. Por isso, é das mais voláteis. Sua organização e o nível das reservas geraram um interessante instrumento de intervenção, muito útil pois a dimensão do mercado à vista é um pequeno múltiplo do mercado futuro.

A intervenção do governo (swap) é nominada em dólares e desfeita na moeda nacional. Ela reduz a volatilidade do câmbio com custos fiscais, mas transfere o uso das reservas aos momentos para os quais elas são criadas: quando o equilíbrio do mercado exige o suprimento de dólar físico.

Nos sistemas de câmbio flutuante isso ocorre quando há uma emergência que revela um desequilíbrio fundamental na taxa. A reserva deve ser usada não para sustentar o nível da taxa de câmbio, mas para disciplinar a sua passagem ao novo equilíbrio, dando tempo aos agentes econômicos para ajustarem suas posições. Nesse caso, ao contrário da operação de swap, há, em geral, uma redução do custo fiscal.

As respostas da política econômica aos movimentos inusitados da taxa cambial dependem da compreensão adequada do que está ocorrendo.

A incerteza essencial que acompanhou o processo de globalização financeira e seu instrumento, a plena liberdade dos movimentos dos capitais, tornou altamente problemática a política cambial dos emergentes. Em geral, é difícil distinguir quantas são as "circunstâncias" (externas, descrença na autoridade, alergia ao risco, desestabilização das expectativas etc.) e quantos são os "fundamentais" (sobre os quais há pesadas dúvidas) que determinam a taxa de câmbio de "equilíbrio".

O problema é que, quando há plena liberdade de movimentos de capitais, a moeda do país transforma-se num ativo financeiro sujeito a todas as formas de manipulação. Pelo pouco que realmente conhecem sobre seu comportamento, os economistas ortodoxos deveriam ser mais humildes, e os heterodoxos, mais cautelosos nas suas recomendações.

Que saudades do velho regime de Bretton Woods! A taxa de câmbio era fixa e não havia liberdade de movimento de capitais.

Os economistas conheciam as respostas simples e certas: 1) Flutuação ocasional no valor das exportações? Use as reservas; 2) Redução permanente do valor das exportações? Comunique ao FMI e desvalorize; 3) Use tarifas "efetivas" em combinação com a taxa de câmbio para estimular a atividade interna e substituir importações em condições de produtividade aceitáveis.

Infelizmente, esse mundo se perdeu. O que o substituiu é inaceitável e exige conserto.


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