Raul Juste Lores

Inovação para principiantes

SÃO PAULO - O turista descobre um admirável mundo de tamanhos ao comprar roupa em Nova York. Tem calça de perna comprida e cintura fina, camisa de manga interminável para troncos modestos e sapatos para pés pequenos, mas largos.

Fomos acostumados ao estreito mundo dividido em G, M e P (no máximo, GG) que a indústria brasileira produz. Quanto mais viaja, mais o brasileiro descobre o significado de 'inovação'.

A classe média é condenada a escolher entre os sofás de estampas floridas e vida útil mínima das redes populares ou à inflacionada Tok & Stok.

Na multinacional sueca de móveis Ikea, você descobre da luminária às prateleiras que sempre quis, com design escandinavo a preço acessível.

O emergente capitalismo indiano se adapta à renda esquálida de centenas de milhões de pessoas. A gigante Godrej lançou a geladeira mais barata do mundo, que funciona com uma minibateria e custa o equivalente a R$ 120. Uma lavadora e um purificador de água igualmente baratos devem ser lançados nas áreas rurais do país.

A desaceleração da nossa economia deve reduzir o oba-oba de "bola da vez" dos Brics. Temos um motor 1.0, dependente de infraestrutura e força de trabalho com deficiências, e uma aceleradinha já causa inflação.

As reformas para desburocratizar o Brasil e deixar a máquina governamental menos custosa precisam ser desengavetadas. Gerentes petistas e choques de gestão tucanos são mais lentos do que o mundo lá fora exige.

Mas nossa indústria passou décadas protegida. Uma nova onda de produtos chineses chegará logo a portos brasileiros, empurrados pela crise na Europa e nos EUA. O "made in China" melhora em ritmo chinês. Barreiras contra os carros asiáticos apenas adiam a batalha final.

Com suas incessantes viagens a Buenos Aires ou a Miami, muitos brasileiros já se manifestam por mais inovação e concorrência. Pobre de quem não pode viajar.