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Ernane Galvêas

Karlos Rischbieter

Causou constrangimento o relatório confidencial sobre a situação econômico-financeira que ele apresentou ao presidente Figueiredo

Karlos Rischbieter teve a carreira profissional mais brilhante que um funcionário público pode desejar.

Foi presidente das mais importantes instituições financeiras, como o Banco de Desenvolvimento do Paraná, o IBC (Instituto Brasileiro do Café), a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil.

Em março de 1979, no governo João Figueiredo, foi nomeado ministro da Fazenda, sucedendo o Mario Henrique Simonsen, que passou ao Ministério do Planejamento.

Engenheiro civil pela Universidade do Paraná, com curso de especialização na França, colaborou com o ministro do Planejamento Roberto Campos em várias atividades no Brasil e no exterior. Dizia Roberto Campos que Karlos Rischbieter era uma figura notável, exemplar homem público, correto, inteligente e criativo, extremamente bem-educado. E, jocosamente arrematava: "Nem rich, nem bitter"...

Conheci Karlos Rischbieter em 1975, quando, na presidência da empresa Aracruz Celulose, no Espírito Santo, precisamos da ajuda da Caixa Econômica para construir uma vila operária nas proximidades da fábrica. Karlos Rischbieter vestiu a camisa da empresa, apoiou o projeto em todas as suas dimensões e continuou a fazê-lo na presidência do Banco do Brasil, em 1977 e 1978.

Construímos uma sólida amizade durante sua gestão no Ministério da Fazenda. Almoçávamos praticamente todas as sextas-feiras, na sede do Banco do Brasil, no Rio.

Esses contatos me "custaram" a perda da presidência da Aracruz para assumir, pela segunda vez, a presidência do Banco Central, em agosto de 1979.

Vivíamos, à época, as agruras do primeiro choque do petróleo, que nos levou a uma desvalorização cambial de 30%, em dezembro. Era o início da longa crise da dívida externa, do Brasil e da América Latina, que durou até o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Sua gestão à frente do Ministério da Fazenda durou apenas dez meses, marcados por pesadas dificuldades econômicas e distúrbios sociais como as greves operárias nas cidades do ABC paulista.

Durante sua gestão, defendeu ardorosamente uma política de austeridade fiscal, de contenção dos gastos públicos, de incentivo às exportações e contenção das importações, visando à redução do endividamento externo.

Causou forte impacto no governo e também sério constrangimento o relatório confidencial sobre a situação econômico-financeira que ele apresentou ao presidente Figueiredo em janeiro de 1980, causa principal de sua exoneração. Coube-me, então, substituí-lo.

Entre as medidas adotadas ao longo de sua gestão, destacam-se as seguintes: instituição da Câmara Superior de Recursos Fiscais; supressão da incidência do Imposto de Renda sobre o 13º salário; transferência do Conselho Interministerial de Preços para a Secretaria de Planejamento; criação da Secretaria Executiva do Concex (Conselho Nacional de Comércio Exterior); transferência do Concex do Ministério da Indústria e Comércio para o Ministério da Fazenda; extinção do registro de letras de câmbio e notas promissórias.

Após deixar o governo, voltou à iniciativa privada, atuando na área de consultoria. Nas eleições presidenciais de janeiro de 1985, participou da elaboração do programa econômico da Aliança Democrática, bloco político que sustentou a candidatura de Tancredo Neves contra Paulo Maluf no Colégio Eleitoral.

Nesse mesmo ano, durante o governo José Sarney (1985-1990), voltou ao IBC (Instituto Brasileiro do Café) entre março e agosto, agora na posição de presidente.

Depois disso, retornou em definitivo à iniciativa privada, atuando em diversas empresas nacionais e estrangeiras. Deixou muitas saudades entre os amigos que tinham por ele uma profunda admiração.


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