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Opinião

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Izabella Teixeira e Gastão Vieira

TENDÊNCIAS/DEBATES

O Brasil tem de ir para o mato

O setor privado precisa de coragem para desbravar novos territórios econômicos e assumir riscos na operação de parques nacionais

Os brasileiros têm uma relação contraditória com seu patrimônio natural. Orgulham-se, mas não se apropriam dele. Frequentemente, referem-se ao verde da nossa bandeira apenas como "o mato". E o mato é, invariavelmente, um estorvo, antônimo de desenvolvimento. Portanto, o melhor a fazer é eliminá-lo --como, aliás, muitos têm proposto.

Para nós, o inverso é verdade: o mato é onde mora a galinha dos ovos de ouro. Nossos ambientes naturais, protegidos por 750 mil quilômetros quadrados de unidades de conservação federais, são o principal ativo turístico do Brasil.

Os parques nacionais poderiam gerar, só com visitação, R$ 1,6 bilhão por ano, numa estimativa conservadora. Isso sem contar as cadeias produtivas dentro e em volta desses parques, cujo potencial de negócios não foi nem sequer estimado.

Foi para colocar os parques nacionais na conta do PIB brasileiro que tomamos uma decisão inédita: elevamos o tema a prioridade conjunta e decidimos conhecer os potenciais e os problemas de alguns parques próximos às cidades-sede da Copa do Mundo de 2014.

O giro começa neste mês pelos parques nacionais de Brasília, Anavilhanas e do Jaú, no Amazonas, e deve terminar em dezembro na Chapada Diamantina. Nosso objetivo, no curtíssimo prazo, é dotar 15 parques de sinalização e acesso para uso público e prepará-los para o aumento do número de visitantes que se projeta durante o mundial.

Não só isso, queremos ver os parques como uma das razões pelas quais brasileiros e estrangeiros viajarão para as sedes do mundial. Para 2016, queremos ter cadeias produtivas de turismo e concessões de serviços turísticos funcionando nos parques do Estado do Rio de Janeiro, sede da Olimpíada. Em 2020, queremos ter os 68 parques nacionais brasileiros abertos à visitação.

Abrimos uma série de conversas com empresários, ambientalistas e governos locais para definir o plano de ação no médio prazo.

Colocar os parques a serviço do turismo é uma ideia tão óbvia que espanta como ninguém tenha pensado nela antes. O Brasil é o número 1 do mundo em atrativos naturais num ranking de competitividade em turismo do Fórum Econômico Mundial, que avalia 140 nações.

Equador, Peru e Chile já deram esse passo, com sucesso. A Costa Rica, menor que a Paraíba, atrai 260 mil visitantes todos os anos para Monte Verde, um parque de apenas 10,5 mil hectares. Por que a maior potência tropical do planeta ainda não fez isso?

As razões são variadas: vão do gigantismo do país e de fragilidades na implantação das áreas protegidas até o fato de o setor privado ainda não ter despertado para o potencial dos parques.

Poucas empresas brasileiras têm capacidade para operar serviços em unidades de conservação ou para disputar concessões públicas para a operação de parques. O setor privado precisa de coragem para desbravar novos territórios econômicos e assumir riscos numa empreitada desta monta.

Mesmo com gargalos, o Brasil conseguiu elevar o número de unidades de conservação dotadas de plano de manejo --conjunto de regras que define seu uso-- de 77 em 2006 para 132 em 2013. O número de visitantes triplicou no mesmo período, de 1,9 milhão para 6 milhões.

Ainda é menos do que recebe por ano o parque campeão de visitas dos EUA, o Great Smoky Mountains, com 9 milhões de usuários. Mas tamanho salto num período tão curto indica o potencial brasileiro.

Ao Estado cabe sinalizar quais são as regras e qual é a orientação política, para dar segurança aos investidores. Acima de tudo, é preciso levar os brasileiros para o mato. Quem não conhece não conserva.


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